Page 11 - Revista da Armada
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portugueses que ali chegaram trabalharam No dia seguinte madrugámos para partici- “Libertad”. Tal como combinado, a fragata
arduamente e devido aos seus conhecimen- par num desfile naval, a nossa última partici- argentina surgiu pela nossa alheta de estibor-
tos, rapidamente se tornaram Comandantes pação oficial neste grande encontro interna- do e colocou-se no nosso través. Ocupando
de pequenas embarcações. Com o passar cional de grandes veleiros. A formação dos postos de honras militares a navegar, o Co-
do tempo tornaram-se armadores pode- mandante deu ordem de fogo ao castelo
rosos e ajudaram a colocar esta activi- de proa e, lá avante, o Guarda-Marinha
dade no segundo lugar nas exportações Pinheiro, armado de espada, fez pronta-
equatorianas. mente cumprir a ordem. As duas salvas
Nesta simbólica festa, onde também se efectuadas pela “Sagres” foram retribuí-
homenageava o espírito empreendedor e das imediatamente pelos argentinos. Es-
a coragem destes emigrantes, viveu-se in- tes saudaram-nos com uma salva arti-
tensamente a cultura portuguesa. O início lheira, num emocionante momento de
calmo, não antevia a animação que se ha- despedida. Certamente todos relembra-
via de seguir. Inicialmente, aproveitaram- ram as amizades que fizeram e os bons
-se as mesas e o convívio sentado, para de- momentos passados ao longo destes três
gustar alguns pratos típicos da gastronomia meses, na companhia destes distintos
portuguesa, desde logo complementados marinheiros.
com doçaria regional de diversos pontos Ao vê-los partir no horizonte, terminá-
do país. De seguida, o conceituado artista mos um ciclo importante desta viagem.
de bordo – o marinheiro Magalhães, can- Nós vamos continuar a nossa circum-na-
tou e encantou os presentes com vários vegação, tendo Acapulco como próximo
expoentes da música popular portuguesa. destino, enquanto a regata segue para o
Durante várias faixas do seu concerto foi canal do Panamá, de onde rumará para
possível observar rodas de dança espon- Cartagena das Índias na Colômbia.
tâneas, relembrando os característicos ar- Na tirada para o México, houve lugar
raiais portugueses. O espectáculo conti- à comemoração do dia vinte de Maio, o
nuou com um grupo de música popular Dia da Marinha.
equatoriana. No final deste, o microfone A muitas milhas de distância das co-
ficou livre para os menos envergonhados, O navio aberto a visitas em Guayaquil. memorações oficiais, a decorrer na cida-
que cantaram fado ao desafio. grandes veleiros navegou unida uma última de de Portimão, o navio também comemo-
A simpatia e alegria desta pequena co- vez e foi fotografada por vários meios aéreos. rou solenemente os quinhentos e doze anos
munidade, que nos recebeu de forma tão Foi um dia triste para nós, pois finalizámos da chegada da armada de Vasco da Gama
hospitaleira, foram reconhecidas por todos a nossa participação nas Velas Sudamérica a Calecute. No final da manhã teve início
e ficará certamente recordada nos o programa das comemorações.
anais desta viagem. O clarim ecoou e marcou o início
Nos restantes dias da estadia, to- de uma pequena cerimónia militar
dos aproveitaram os tempos livres no poço do navio. A cerimónia foi
para conhecer a cidade. Esta cres- marcada pela entrega dos Distinti-
ceu paulatinamente nas margens do vos Alusivos ao Tempo de Embar-
rio Guayas, aproveitando os seus re- que e à entrega dos Certificados de
cursos naturais. O centro histórico passagem na Linha do Equador e
recebe naturalmente influências da no Cabo Horn. No final deste ce-
arquitectura espanhola, apresentan- rimonial marítimo, o Comandante
do casas senhoriais opulentas e uma fez uso da palavra. Num breve dis-
catedral majestosa. curso, frisou a importância da data,
Perto do centro da cidade é pos- da missão actual e deste tipo de dis-
sível visitar o Parque das Iguanas, tinções, que representam o ganhar
onde podemos contemplar uma es- Parque Histórico de Guayaquil. de experiência de uma guarnição.
tátua gigante em honra deste réptil. Finda a cerimónia foi preparado um
Na verdade a iguana é uma espécie almoço convívio no poço do navio.
de mascote da cidade e pode ser en- Foram montadas as mesas do buffet
contrada, em todas as áreas verdes. e servido um típico “Bacalhau à Ma-
Utilizando a sua camuflagem natu- ria da Fonte”. Antes de todos pode-
ral, deleitam-se ao Sol nos jardins rem provar o semi-frio de frutos de
da cidade, levantando-se esporadi- bosque, brindou-se com um “Viva a
camente para comer aquilo que as Sagres e Viva a Marinha”, e o Che-
pessoas deixam pelo chão. fe de Serviço de Artilharia dirigiu a
No penúltimo dia da nossa esta- guarnição nas “salvas artilheiras que
dia, recebemos a bordo o Presidente a Marinha consagrou”.
do Equador, que aproveitou a pre- No início da tarde tiveram início
sença dos veleiros, para os visitar as habituais competições desporti-
ao mesmo tempo que estreitava al- vas do Dia da Marinha. O futebol
gumas relações diplomáticas. Recepção realizada pelo Município de Samborodon no Parque de convés e a tracção à corda abri-
Histórico de Guayaquil. ram as hostilidades, mas a prova que
No dia 11 de Maio largámos, um
por um, fomo-nos despedindo dos velei- 2010. Despedimo-nos dos vários veleiros, reuniu maior número de inscritos, foi a de
ros que passaram pelo nosso cais. Içando a utilizando as telecomunicações VHF. Por natação, que se realizou ao final da tarde,
bandeira do seu país e emitindo três apitos fim, cumprimentámos o navio venezuela- tendo o Oceano Pacífico por piscina. Nin-
longos e um curto, acenámos em despedida no, que se encontrava mais perto de nós e guém quis perder a oportunidade de mostrar
à frota das Velas Sudamérica 2010. aguardámos a chegada do navio argentino os seus dotes de nadador, apesar de se recear
Revista da aRmada • JULHO 2010 11