Page 19 - Revista da Armada

em 1925, por considerar o local adequado para documentos, um ambiente propício ao «ressurgi- Pereira da Silva interessou-se, desde muito cedo,
dar formação ao pessoal especializado e onde mento naval». Numa altura em que considerava pelo estudo da organização da Armada, vindo,
nasceram as escolas de mecânicos e de alunos que se havia atingido o «zero naval», foi sob a égi- com a sua acção, a ter um papel preponderante
marinheiros. de do ministro Magalhães Correia , em 1930, que na modernização de toda a Marinha. Não obs-
Ficou viúvo a 24 de Outubro de 1925, tendo o seu Programa Naval começou, finalmente, a ser tante já se encontrar na situação de reserva, fruto
igualmente vistofalecer o filhoprimogénito nesse posto em prática. De resto, como subchefe do Es- da sua postura e do enorme prestígio que todos
mesmo ano, que era Aspirante da Escola Naval tadoMaiorNavalhaviasidonomeadorelator«de lhe reconheciam, a 24 de Janeiro de 1935 foi dis-
e no qual depositava grandes esperanças como um programa naval em harmonia com os pontos tinguido com a promoção ao posto de Contra-
continuador da sua obra e devoção à Marinha. de vista do ministro da Marinha». Na realidade, -almirante.
Casou-se em segundas núpcias com Gracinda tanto o novo ministro como o próprio Presidente Em 1937, ao constatar que, sete anos volvidos,
Correia da Cruz, no dia 8 de Maio de não se ia além da implementação
1927. de uma pequena parte da primeira Arquivo Geral da Marinha
Por considerar imprescindível a fase do Programa Magalhães Correia
defesa das províncias ultramarinas,
enviou forças navais a África e ao – que devia ser executado em três
fases, durante 12 anos – Pereira da
Oriente, criando um Centro de Avia- Silva escreveu nos Anais do Clube
ção Naval em Macau, dotado de Militar Naval:
infra-estruturas e de uma esquadrilha
composta por três hidroaviões Farey. «Ainda que circunstâncias superio-
res de administração governativa
Dotado de uma visão estratégica por certo justifiquem, temos que
de longo prazo, considerava que o
financiamento do seu Plano Naval notar, penosamente, um estado de
paralisia naval».
deveria ser obtido através de em- A antiga Sagres, ainda sem a Cruz de Cristo nas velas, foi Escritor prolífico, o Contra-almi-
préstimo externo amortizável em integrada na Marinha em 1924 como navio-escola, por decisão
vinte anos, sendo que a construção do ministro Pereira da Silva. rante Fernando Augusto Pereira da
Silva faleceu em Lisboa, no dia 3 de
de unidades navais tinha igualmente em vista o da República sempre declararam que esta refor- Novembro de 1943, aos 72 anos, deixando-nos
desenvolvimento da construção naval nacional, ma, conhecida como Programa Magalhães Correia, um vasto e valioso conjunto de trabalhos publi-
quer a nível do Arsenal da Marinha, quer de ou- incorporava o trabalho e as ideias desenvolvidas cados.
tros estaleiros da área de Lisboa. Na sequência da porPereiradaSilva. Depois de em vida ter sido distinguido com
apresentação do Plano Naval do ministro Pereira Entre2deSetembrode1931e12deNovembro inúmeros louvores e as mais altas condecorações,
da Silva, a que se seguiram as primeiras reacções de1932foichefedamissãomilitarencarregadade o seu extraordinário legado justifica plenamente
pouco favoráveis, Joaquim Manso (1878-1956) fiscalizar a aquisição de novos navios a Inglaterra. as homenagens que a Marinha regularmente lhe
satirizavaassim,atravésdaimprensa,aendémica Terminariaasualongacarreiranavalcomo1.ºCo- vemprestando.Aprimeiratevelugarem1966,ao
ausência mobilizadora que nos caracteriza: mandante da Brigada de Artilheiros e da fragata ser dado o seu nome à primeira fragata da classe
«Não sorriam os incrédulos, não encolham os D.FernandoIIeGlória,cargoqueexerceuentre6de Almirante Pereira da Silva, navio construído nos
ombros os indiferentes, não se entretenham a in- Dezembrode1932e13deJaneirode1933. estaleiros da Lisnave e aumentado ao Efectivo dos
trigar os maledicentes. Não façam obra destrutiva. A 17 de Janeiro de 1933 assumiu o cargo de Navios da Marinha a 2 de Dezembro de 1963. Em
Ajudem a construir qualquer coisa!». vogal na comissão encarregada de propor ao go- 1996, foi a vez da Escola Naval o homenagear,
Com efeito, em 1926, insatisfeito com o «si- verno as bases da organização e as atribuições do como Patrono do curso de cadetes que entrou
lêncio que se fizera no parlamento à volta do seu ConselhoSuperiordeDefesaNacional. para a Marinha naquele ano. No passado dia 14
Programa Naval e da constante agi- de Dezembro, coube ao Estado-Maior da
tação política não permitir a obra de
reconstrução da Armada tal como a Arquivo Revista da Armada Armada – herdeiro do espírito e das
tradições do Estado Maior Naval, e
delineara e previra», revelou intenção onde Pereira da Silva foi subchefe –
de abandonar a pasta da Marinha. En-
tendeu, no entanto, que aquele seu tra- atribuir o seu nome à sua mais nobre
e renovada sala, anteriormente co-
balho deveria ser dado a conhecer sob nhecida como Sala de Adidos.
a forma de livro, no qual, como autor,
poderia apresentar as suas justificações
e defender-se das muitas e injustas «Falando da minha acção, ain-
da que modesta, devo dizer que a
críticas de que era acusado. Apesar de consciência me diz que em toda a
o poder ter feito publicar a expensas
do seu Ministério, optou por ser ele minha carreira naval não descurei
o emprego dos meios necessários
próprio a custear as despesas da obra A fragata Almirante Pereira da Silva para robustecer e reanimar a nos-
Política Naval e Política Naval Nacional,
que foi impressa nas oficinas gráficas do Instituto sa Marinha de Guerra, nos seus
Homem culto, trabalhador, de elevada aspectos materiais, morais e mentais, pois
Profissional dos Pupilos do Exército, dando opor- formação moral, tolerante, republicano, sem todos eles considerei, com maior ou menor
tunidadeaosalunosparapraticaremaqueleofício. paixões nem filiações partidárias, para quem desenvolvimento, conforme as épocas e as
Substituído na pasta da Marinha, voltou ao «o poder não se disputava a tiro, antes se circunstâncias, quer nos meus livros, publica-
Estado Maior Naval, onde assumiu o cargo de alcançava mediante consultas honestas ao ções diversas, artigos de jornais, quer na ela-
subchefe. Pouco tempo depois, Pereira da Silva eleitorado», continuou a dedicar à Marinha boração de diplomas e formulação de parece-
era chamado para formar e presidir à Comissão toda a sua devoção, mesmo depois de passar res, quando estava em condições de o poder
ExecutivadePropagandadaArmada.Comgéne- à reserva a 9 de Fevereiro de 1933. fazer, e, porque o meu procedimento foi bem
senaacçãodoClubeMilitarNaval,tinhacomoob- Consciente das limitações da política na- apreciado, não direi pelo seu valor, mas pela
jectivo criar, através da imprensa, filmes e outros cional e da pequenez da mentalidade da Nação, honestidade das minhas intenções» 3.

19REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2011