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SEACON
SISTEMA DE MÚLTIPLOS VEÍCULOS AUTÓNOMOS SUBMARINOS
Decorrente da necessidade, consagrada no Sistema de Forças Nacional 2004, de edificação de uma capacidade de Guerra de Minas,
assente num Destacamento dotado técnicas MCM modernas, operando equipamentos submarinos não tripulados (UUVs) e por forma
a conjugar o interesse mútuo e a experiência acumulada na área dos veículos não tripulados, em 2006 foi assinado um Protocolo de
Cooperação entre a Marinha Portuguesa (MP) e a Universidade do Porto (UP).
Este protocolo teve no seu racional “A conveniência de fomentar a investigação e desenvolvimento em domínios de in teresse cien-
tífico e pedagógico comum, especialmente na área de veículos autónomos”. O documento veio formalizar a cooperação existente
entre a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), e a MP.
Neste seguimento, em 2007, a MP e a FEUP apresentaram ao MDN para possível financiamento o projeto SeaCon - Sistem a de treino,
demonstração e desenvolvimento de conceitos de operação de múltiplos veículos submarinos autónomos, tendo sido, em final 2008, de-
pois de um criterioso processo de selecção, assinado um Protocolo de Cooperação entre a o MDN–DGAIED, MP e a UP, relativo à reali-
zação do Projeto de I&D de Defesa SeaCon.
A EVOLUÇÃO DOS UNMANNED lidade de redução de custo do ciclo de vida e continuam a ser dominadas pela tecnologia das
UNDERWATER VEHICLES UUVS podem, desta forma, vir a contribuir para uma comunicações acústicas.
efectiva disseminação, aceitação e utilização
Na última década do século XX assistiu- destas tecnologias. Os avanços nas áreas de modelos de compu-
-se ao desenvolvimento de protótipos tação para sistemas distribuídos, de linguagens
de veículos submarinos autónomos não Os conceitos de operação para veículos de programação e de mobilidade de processos e
tripulados, bem assim como ao aparecimen- submarinos autónomos estiveram inicialmente de código permitem antever novos paradigmas
to das primeiras empresas especializadas na orientados para missões com um único veícu- para a programação de sistemas compostos por
comercialização de veículos derivados desses lo. Contudo, são conhecidas as vantagens da veículos, operadores e sensores. Neste âmbito é
protótipos. A este processo não foram alheios utilização simultânea de múltiplos veículos. possível antever a transferência de computações
os requisitos militares e os financiamentos que Entre estas, encontram-se a possibilidade de de um veículo para outro, ou a actualização do
lhe estavam associados. distribuição de sensores pelos veículos e o au- software instalado a bordo de veículos, mesmo
mento da eficiência energética, sendo este últi-
Tal processo explica a prepon- mo resultante do facto do consumo energético durante a operação dos mesmos.
derância que as empresas ameri- crescer significativamente com a velocidade do Os protocolos de comunicações
canas assumiram no mercado dos veículo. As vantagens resultantes da operação
veículos submarinos autónomos, de múltiplos veículos não decorrem apenas do para Disruptive Tolerant Networks
o qual ainda hoje tem uma im- número de veículos utilizados. Decorrem tam- (DTN) oferecem um enorme potencial
portante componente militar. Foi bém das sinergias e das complementaridades para aplicações em que as redes de
talvez a conjugação desta prepon- que se podem estabelecer entre um grupo de comunicação têm características de
derância com os requisitos dela veículos e, entre estes e os operadores. Em par- intermitência, como é o caso de redes
decorrentes que determinou, em ticular, importa salientar a possibilidade da rea de veículos. Os paradigmas de inicia-
parte, os elevados custos associa- lização de missões satisfazendo conjuntos de tiva mista – que tratam do problema
dos a todas as fases do ciclo de requisitos que não são possíveis com o recruso de articular o que de melhor opera-
vida destes veículos (aquisição, a um veículo. dores humanos e agentes de software
operação, manutenção e evolu- podem contribuir para o planeamento
ção). Esta conjugação terá ainda Os mais recentes avanços e tendências tec- de operações e controlo de execução
contribuído para que os mode- nológicas permitem imaginar novos conceitos das mesmas – são seguramente uma
los de negócio destas empresas de sistemas e de operação que terão o potencial referência a seguir, uma vez que o pla-
tenham estado orientados para a fidelização para revolucionar as operações com sistemas neamento e o controlo da execução
de clientes através da comercialização de siste- compostos por múltiplos veículos. Os avanços de operações são de natureza e com-
mas fechados. Em consequência, a realização nos dispositivos de comunicação “wireless” e plexidade tais que transcendem, por um lado, as
de alterações, adaptações e manutenções dos nos protocolos para redes “ad-hoc” permitem possibilidades da sua completa automatização
sistemas requer a intervenção, tipicamente one- antever uma maior capacidade de interligação e, por outro lado, a capacidade e a eficiência da
rosa, da marca. de veículos e sistemas, pelo menos à superfície, intervenção de operadores humanos.
já que as comunicações no meio subaquático O projeto SeaCon visa precisamente endere-
Se é verdade que os elevados custos relati- çar alguns destes desafios.
vos a estes modelos de negócio têm funciona-
do como uma barreira a uma maior utilização ENQUADRAMENTO DO PROJETO
de veículos autónomos em aplicações civis,
também é verdade que o trabalho pioneiro de- O Sistema de Forças 2004 (SFN04) estabe-
senvolvido por estas novas empresas tem con- lecia, de forma abrangente, uma capacidade
tribuído para demonstrar não só novas capaci- de Guerra de Minas, onde se previa entre ou-
dades, mas também a viabilidade operacional tros elementos de força, a edificação de um
deste tipo de veículos. Destacamento vocacionado para a Guerra de
Minas (DGM), o qual deveria incorporar técni-
Actualmente, o projeto e construção de veí cas MCM modernas, operando equipamentos
culos submarinos autónomos de pequena di- submarinos não tripulados (UUVs), empregues
mensão é objeto de intensa actividade de in- essencialmente em águas pouco profundas (in-
vestigação e desenvolvimento. É que, para além feriores a 200m) e estuarinas.
de incorporarem novas tecnologias que tornam
possível níveis de funcionalidade comparáveis No âmbito da defesa militar e suporte da po-
aos oferecidos por veículos de maiores dimen- lítica externa, o apoio a Operações Anfíbias e a
sões, estes veículos oferecem ainda a possibi- actuação em portos e estuários adquiriram espe-
cial relevância, sendo para isso necessário que
8 FEVEREIRO 2012 • REVISTA DA ARMADA