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próprio Ministro da Marinha, o CALM Ma- querque e o NRP Bartolomeu Dias foram acelerava bastante a corrosão dos motores.
galhães Corrêa, que a partir daqui iria co- assim os primeiros navios portugueses com O Serviço de Aviação de bordo era com-
mandar as operações. A 25 de abril as aero- capacidade para embarcar uma aerona- posto por um oficial subalterno (piloto
naves começaram a operar a partir do Porto ve orgânica. Para o efeito foram adquiri- aviador) e uma praça (mecânico de avia-
Santo em condições bastante adversas. dos dois hidroaviões Hawker Osprey III10. ção), este último para além das tarefas de
A ilha estava completamente exposta ao A descolagem e amaragem destes hidroa- manutenção e aprontamento da aerona-
mar, o que dificultava não só a descolagem viões de flutuadores requeriam condições ve, em voo ocupava o assento traseiro do
e amaragem dos hidros como também toda de mar muito favoráveis que raramente se avião como observador e metralhador. As
a manutenção e aprontamento das aerona- encontram em alto mar, para além disso, aeronaves efetuavam cerca de 5 horas de
ves, que tinha que começar na madrugada os nossos navios colocavam e recolhiam voo mensais e sempre com o navio-mãe
anterior com estas amaradas e com fundeado ou atracado nos portos11.
recurso a embarcações miúdas. Nes- Foto álbum do CTEN Costa Gomes Os voos eram essencialmente de re-
ta expedição as aeronaves efetua- conhecimento visual e de treino dos
ram cerca de 100 horas de voo em pilotos. Embora menos frequentes,
missões de reconhecimento, ataque efetuavam-se também voos de reco-
ao solo e ações psicológicas (lança- nhecimento fotográfico e de treino
mento de panfletos). Os voos de re- para os telemetristas e apontadores
conhecimento efetuaram-se a muito dos navios. Pelos motivos atrás des-
baixa altitude8 e por diversas vezes critos, comprovou-se que a aerona-
os CAMS foram alvo do armamento ve basicamente não acrescia grande
ligeiro e da “artilharia antiaérea” dos capacidade operacional aos navios,
revoltosos, que a bem da verdade pelo que em meados dos anos 40 os
não eram mais do que os foguetes hidros foram substituídos por peças
que normalmente se utilizavam em de artilharia antiaérea.
festas e romarias9… A utilização das Em 1952, com a extinção da
aeronaves foi determinante nesta Aviação Naval a Marinha per-
operação, nomeadamente no dia 26 Hawker Osprey do NRP Afonso de Albuquerque a ser içado para bordo . dia as suas asas, numa altura em
de abril, quando os CAMS detetaram Foto Museu de Marinha que começava a ganhar relevân-
e bombardearam as posições camu- cia a utilização naval de um novo
fladas que os revoltosos montaram tipo de aeronave: o helicóptero12.
para emboscar a força que iria de- Nos inícios dos anos 50, a US Navy
sembarcar no Caniçal. Perante esta começou a operar nos seus des-
situação optou-se por desembarcar troyers helicópteros com capacida-
no dia seguinte em S. Lourenço, de de luta anti-submarina, tendên-
onde as forças governamentais de- cia que rapidamente se propagou a
sembarcaram sem resistência e neu- outras marinhas com as quais con-
tralizaram a revolta após uma sema- tactávamos quando integrados em
na de pequenas escaramuças. forças navais da NATO. Não é por
Nesta época a Marinha atravessava isso de estranhar que logo a partir
um período de quase “zero naval” desta altura tenha sido um desidera-
que era um motivo de grande preo- to da Marinha possuir uma força pri-
cupação nacional. A Revolta das Ilhas vativa de helicópteros para opera-
só veio a comprovar a necessidade Hidroavião Hawker Osprey III a bordo de um aviso da classe Afonso rem como aeronaves orgânicas das
de se acelerar o “Plano Naval Maga- de Albuquerque. suas fragatas. Contudo, no começo
lhães Corrêa”. Dado o contexto do da década de 60 iniciou-se a Guer-
artigo, há que referir que este progra- Foto Arquivo RTP ra Colonial, que obrigou a redefinir
ma incluía a aquisição de um porta- as prioridades e o tipo de material
-aviões, mais concretamente de um a adquirir, o que por sua vez adiou
navio de transporte de hidroaviões. em três décadas a aquisição dos he-
Nos anos 30 este conceito de navio licópteros orgânicos.
era ainda uma opção válida e menos A primeira operação de helicópte-
dispendiosa do que o porta-aviões ros a partir de um navio da Marinha
com aeronaves de trem. Assim, em Portuguesa ocorreu em 196413, na
1931, Portugal encomendou à Itália Guiné, durante a Operação Triden-
a construção do seu transporte de te14. Para o efeito foi construída uma
hidroaviões, mas com o contágio da plataforma em madeira na popa do
crise de 1929 à Europa, a Lira des- NRP Nuno Tristão, a partir do qual
valorizou bastante, o que aumentou operou um Alouette II para missões
exponencialmente o custo de aqui- de transporte de pessoal e de eva-
sição do navio e por consequência cuação médica, tendo estas últimas
o cancelamento do contrato. Do Alouette II com macas de evacuação médica a bordo do causado um impacto bastante po-
“porta-aviões” português apenas se NRP Nuno Tristão. sitivo no moral das forças que ope-
chegou a construir, no Arsenal do Alfeite, as aeronaves do mar através de um pau- ravam em terra. Pontualmente ocorreram
uma enorme boia de amarração… -de-carga; operação que era muito morosa, outras operações com helicópteros, por
Apesar do Plano Naval não se ter cum- que tinha que ser efetuada com o navio a exemplo, em Moçambique efetuaram-se al-
prido na íntegra, foram adquiridos no seu pairar e com elevado risco para a seguran- gumas evacuações médicas por helicóptero
âmbito, em 1935, dois avisos de 1ªclasse ça do pessoal e da aeronave. A inexistên- para o navio de apoio logístico NRP Sam
que tinham capacidade para embarcar cia de um hangar obrigava a aeronave a Brás, que para além de um amplo convés
um hidroavião. Os NRP Afonso de Albu- ficar exposta ao ambiente marítimo, o que de voo estava dotado de boas facilidades
8 JULHO 2013 • REVISTA DA ARMADA