Page 270 - Revista da Armada
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tunidade gostaria de construir uma carreira nesta instituição e con-
                                                              tinuar o meu trabalho. Se isso não acontecer, também não conside-
                                                              rarei como perdidos os anos que aqui passei porque penso que esta
                                                              organização me ajudou a crescer como profissional e como pessoa".

                                                                Tem 25 anos e veio para a Marinha em finais de 1992. Estamos a
                                                              falar da Maria Leonor Silva, uma das primeiras Segundo-Sargentos
                                                              Enfermeiras da Marinha.
                                                                A 2SAR Leonor Silva contou-nos que "quando acabei o liceu que-
                                                              ria seguir Engenharia de Informática, mas como não entrei na Facul-
                                                              dade e por influência do meu irmão que é MAR CM, ingressei na
                                                              Marinha. Pensei que seria uma carreira diferente com a vantagem de
                                                              ter a oportunidade de continuar a estudar".
                                                                Quanto à integração, a Leonor não teve grandes dificuldades ape-
                                                              sar de ser um meio predominantemente masculino, "no início e como
                                                              fomos as primeiras mulheres na Marinha, as pessoas não sabiam
         2TEN TSN Cidália Anjos.                              muito bem como lidar connosco, mas acabou tudo por correr bem".
                                                                Depois de ter feito o Curso de Formação de Marinheiros, especiali-
         as Forças Armadas precisarão de todos os talentos e isto irá sobrepor-  zando-se em Abastecimento (L), a Sargento Leonor Silva foi colocada
         -se às diferenças de género. No entanto, a atracção e retenção de ta-  na antiga 7ª Repartição, que é hoje a Repartição de Recrutamento e
         lentos não é favorecida pelo substancial atraso com que continua a  Selecção.
         concretização dos incentivos à prestação do serviço em RV e RC pre-  A Enfermagem era o seu verdadeiro sonho. Um sonho que já vem
         vistos no Dec.-Lei 336/91 de 10 de Setembro, nomeadamente no que  de criança e que agora se tornou realidade. Foi com entusiasmo e es-
         se refere à equiparação de cursos frequentados em estabelecimentos  perança que a Leonor concorreu ao curso de Enfermagem onde pela
         de ensino nas Forças Armadas, com os cursos ministrados nos esta-  primeira vez, na Marinha, concorriam militares do sexo feminino.
         belecimentos civis. A certificação profissional é fundamental no
         incentivo ao RV e RC.
           Outra situação que é importante referir, é que os cidadãos incorpo-
         rados nos três ramos das Forças Armadas para prestarem serviço em
         RV e RC, vencem nos quatro primeiros meses remunerações idênticas
         aos militares em SEN e que é aproximadamente 7000$00, "este
         período inicial não é motivante, comparado com qualquer oportu-
         nidade profissional civil, e não há motivo para isso porque nós não
         viemos prestar um serviço obrigatório, viemos porque quisemos,
         somos profissionais e especificamente no caso dos TSN, após as
         cinco semanas de formação militar, começamos a desenvolver a
         nossa actividade técnica".
           Importa ainda referir que foi demorada a resposta do MDN às cons-
         tantes solicitações da Marinha iniciadas em 1992, para a criação do
         quadro dos TSN nos QP, "penso que a generalidade dos TSN que
         continuam na Marinha têm esperança de vir a fazer carreira nos QP,
         porque gostam de cá estar e interiorizaram os valores e a cultura
         desta organização. Também não tenho dúvidas de que a possibili-
         dade de ingressar nos quadros permanentes ( ainda que pequena) é
         um dos fortes incentivos ao RV e RC".
           Quanto ao serviço militar feminino, a Tenente Cidália considera
         que a maior dificuldade é a conciliação entre a maternidade e a car-  2SAR Leonor Silva.
         reira profissional nas FA "não se trata de uma situação fácil para as
         mulheres que queiram "investir" numa carreira militar. Noutros paí-  Depois das provas de selecção ficaram aprovados quatro ele-
         ses tem-se verificado que o principal motivo que as leva a abandonar  mentos femininos e seis masculinos (Marinha).
         o serviço militar é o nascimento dos filhos. No entanto, penso que há  O curso foi ministrado na Escola de Serviço de Saúde Militar,
         sempre formas de atenuar essas dificuldades, nomeadamente o  teve a duração de 3 anos e tem exactamente as mesmas disci-
         planeamento da gravidez por parte dos pais e alguma atenção da  plinas e carga horária dos cursos civis de Enfermagem, à excepção
         gestão do pessoal, ambos no sentido de incentivarem activamente a  de duas disciplinas - Formação Técnico-militar e Educação Física
         conciliação entre a vida profissional e a vida familiar”.  - que são inexistentes nos outros cursos.
           Quando lhe perguntámos se alguma vez se tinha sentido discrimi-  Na opinião da Sargento Leonor Silva "o curso de Enfermagem
         nada por ser mulher a resposta foi "nunca me senti alvo de discrimi-  foi bastante trabalhoso e implicou que tivéssemos um bom ritmo
         nação nem de proteccionismo, apesar de admitir que isso possa  de estudo, mas agora que terminámos o curso, verificámos que
         acontecer com outras pessoas, sempre me trataram como profissio-  valeu a pena todo o trabalho e esforço que fizemos ao longo
         nal e como camarada, talvez porque sempre tentei ser profissional e  destes 3 anos lectivos".
         sempre tratei os outros (militares e civis) com respeito e cama-  Após terem terminado o curso de Enfermagem, a 2SAR Maria
         radagem".                                            Leonor e restantes camaradas de curso, frequentaram um curso de
           Para esta Oficial, concorrer à Marinha pareceu-lhe uma boa opor-  Liderança em Vale de Zebro. Em Outubro do ano passado foram
         tunidade de iniciar uma carreira na sua área de formação, "vestiu a  colocadas no Hospital da Marinha, sendo estas militares promovi-
         camisola" e assumiu a cultura da organização, e se quando a Marinha  das a 2SAR em Dezembro de 1998.
         a contratou foi para utilizar os seus conhecimentos na área do pes-  Actualmente, a 2SAR Maria Leonor está na 2ª Enfermaria do
         soal, hoje quisemos saber quais as suas expectativas quanto ao futuro,  Hospital de Marinha "onde tenho tomado contacto com as patolo-
         "se a minha área de licenciatura for uma das necessidades da Ma-  gias relativamente à cirurgia e ortopedia", mas já passou por vários
         rinha a nível dos QP, obviamente que vou concorrer e se tiver opor-  serviços do Hospital, nomeadamente nas 1ª e 5ª Enfermarias.  ✎
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