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A Marinha na Cooperação Técnico-Militar

  «A cooperação é um modelo de relações internacionais que implica colocar em prática uma política continuada, destinada a
tornar mais íntimos, através de mecanismos permanentes, os contactos entre Estados em vários domínios, sem pôr em causa a sua
independência.»1

OENQUADRAMENTO                               Dependendo da natureza do apoio solicitado        O CONCEITO DE CTM NA MARINHA
         nosso relacionamento com os Países  e do objetivo global a atingir, a consecução dos
         Africanos de Língua Oficial Portu-  projetos é conferida à DGPDN, ao EMGFA ou           A Marinha é, assim, a componente na-
         guesa (PALOP) e Timor-Leste é, por  a um dos ramos das Forças Armadas.                val da cooperação técnico-militar portu-
motivos culturais e históricos,                                                                guesa, que se desenvolve sob a direção
um dos pilares fundamentais da
cooperação e da política externa                                                                           do MDN, através da DGPDN.
portuguesas.                                                                                               Concorre para os objetivos das
Assim, as ações desenvolvidas                                                                              políticas externa e de defesa na-
por Portugal “para a realização                                                                            cional, e destina-se a promover
de um mundo melhor e mais es-                                                                              a segurança e o desenvolvimen-
tável, muito em particular nos                                                                             to sustentado das instituições
país­es lusófonos, caraterizado                                                                            congéneres, através da valori-
pelo desenvolvimento económi-                                                                              zação dos recursos humanos,
co e social, e pela consolidação e                                                                         da modernização dos meios,
o aprofundamento da paz, da de-                                                                            da reorganização das estruturas
mocracia, dos direitos humanos                                                                             e do ajustamento às realidades
e do Estado de direito”2, consti-                                                                          específicas dos PALOP e de Ti-
tuem a missão fundamental da                                                                               mor-Leste.
cooperação portuguesa.
Neste domínio, as Forças Arma-                                                                                A Marinha, enquanto entida-
das desempenham, naturalmente,                                                                             de técnica responsável, apoia
um papel essencial na componen-     Timor – Formação de especialidade de Marinha.                          localmente a consecução dos
                                                                                                           objetivos dos PQ e respetivos
te de defesa da cooperação portuguesa, através Para efeitos de execução dos projetos de                    projetos, através dos seus efeti-
da realização de ações de cooperação técni- cooperação, o MDN, através da DGPDN, su-                       vos, designados para o exercício
co-militar (CTM), junto dos países lusófonos. porta financeiramente as atividades acorda-      das funções de diretores técnicos e asses-
A CTM, de natureza essencialmente bila- das, as quais são complementadas por verbas            sores, tendo em conta as solicitações dos
teral, iniciou-se no final dos anos 70, após provenientes do Instituto Português de Apoio      países parceiros e a capacidade de respos-
as independências dos países africanos lusó- ao Desenvolvimento3 e dos ramos das Forças        ta da Marinha.
fonos, de forma pontual e avulsa, ao sabor Armadas.                                              As atividades são conduzidas em parce-
das solicitações. Posteriormente, no decénio Cada projeto, composto por um objetivo            ria com as marinhas, guardas-costeira ou
de 90, atingiu uma maior matu-                                                                 componentes navais das Forças Armadas
ridade e consolidação quando                                                                   dos países parceiros e visam, em concreto:
adotada uma metodologia de
execução centrada na maximi-                                                                                  Desenvolver o planeamen-
zação dos recursos, em prol das                                                                            to genético, estrutural e ope-
necessidades e prioridades dos                                                                             racional;
PALOP e em consonância com
as capacidades nacionais.                                                                                     Integrar parcerias com países
Esta componente da cooperação                                                                              vizinhos para o desenvolvimen-
portuguesa, dirigida pelo Ministé-                                                                         to articulado da segurança marí-
rio da Defesa Nacional (MDN), em                                                                           tima (security e safety);
estreita colaboração com o Minis-
tério dos Negócios Estrangeiros,                                                                              Incrementar a atitude colabo-
ultrapassa o quadro estritamente                                                                           rativa no relacionamento com
militar, contribuindo para a segu-                                                                         outras entidades ou organiza-
rança, estabilidade e desenvolvi-                                                                          ções com responsabilidades e
mento económico e social. No                                                                               competências no mar;
quadro específico da defesa com-
pete à Direcção-Geral de Política   Moçambique – Aula de eletrotecnia.                                        Desenvolver uma capacida-
                                                                                                           de de Conhecimento Situacio-
de Defesa Nacional (DGPDN) dirigir a CTM, global e por vários objetivos específicos, é                     nal Marítimo;
em articulação direta com o Estado-Maior Ge- executado no terreno por diretores técnicos4,
neral das Forças Armadas (EMGFA) e os três ra- assessores residentes, permanentes ou tempo-                   Empenhar meios operacio-
mos das Forças Armadas.                      rários, e por assessores não residentes.                      nais em atividades de interesse
A CTM operacionaliza-se através da execu- Nas situações em que um Estado parceiro                          comum.
ção de programas-quadro (PQ), acordo técnico solicita apoio ao desenvolvimento na área de
definido ao nível político, após uma solicita- segurança e da maritimidade, a Marinha, na                     A Marinha Portuguesa, através
ção expressa de apoio por parte de um Estado qualidade de entidade técnica responsável5        do apoio ao desenvolvimento das capaci-
parceiro. São delimitados temporalmente e por esta área, apoia a DGPDN no desenvolvi-          dades das suas congéneres dos PALOP e
compostos por um ou mais projetos de coo- mento de um PQ através da concretização de           de Timor-Leste, países com uma dimensão
peração, de âmbito naval, terrestre ou aéreo. um, ou mais, projetos.                           marítima significativa, onde o exercício da
                                                                                               autoridade do Estado no mar é fundamen-
                                                                                               tal, procura que estas últimas consigam, de
                                                                                               forma autónoma, garantir o uso do mar e
                                                                                               aplicar a autoridade dos Estados nos espa-
                                                                                               ços marítimos sob sua soberania ou juris-
                                                                                               dição, em particular nas respetivas Zonas
                                                                                               Económicas Exclusivas (ZEE).

                                                                                                          REVISTA DA ARMADA • JULHO 2012 11
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