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NRP Tridente – Docagem de Garantia
Foi em 10 de agosto de 2011 que, após um tamente aprontariam o navio para mais uns o NRP Tridente, tinha de início, à semelhança
ano de intensa actividade operacional, anos de mar. de qualquer outro navio, melhorias a fazer que
a guarnição do NRP Tridente se reuniu A pensar no futuro, a Direção de Navios – nunca colocaram em causa a segurança para
mais uma vez no cais nº 6 da BNL para rece- Divisão de Submarinos, na pessoa do CMG navegar ou operar.
ber as últimas instruções relativas à preparação EMQ Costa Campos, no âmbito da manutenção Às sucessivas desmontagens e montagens as-
da navegação para Kiel para posteriormente ir planeada, submeteu uma lista de trabalhos ao sociavam-se sempre, duas vezes por semana, as
para o mar. estaleiro para execução durante o período em reuniões de coordenação onde estavam os re-
que decorreria a Docagem de Garantia, com o presentantes de cada uma das entidades envol-
Efetuados os Postos de Combate de Verifi- objetivo claro de evitar docar o navio em 2012. vidas no projeto: o estaleiro, a PNID, a DN-DS2
cação, largámos da BNL às 10h00, iniciando No atual quadro orçamental, procedeu-se e o navio. Foi durante a fase das desmontagens
assim a viagem que poria fim a mais uma fase ainda à otimização da dimensão da guarnição que começaram a surgir as primeiras ocorrên-
relevante na vida dos Submarinos da ClasseTri- para o acompanhamento da docagem, permi- cias que nos indicavam, afinal, que teríamos o
dente, a Docagem de Garantia. Importa referir tindo uma mais eficiente gestão de recursos hu- nosso regresso atrasado em uma ou duas se-
ao leitor que, desde 2007, a guarnição esteve manos e financeiros. Com uma lotação com- manas, mas que ainda nos permitiria chegar à
envolvida num longo processo de formação, pleta de 33 militares, o NRP Tridente dispensou BNL antes do Natal. A fase das desmontagens
desde a instrução dedicada a sistemas/equipa- 11 militares que voaram para Lisboa cinco dias foi sui generis, não só porque do nada surgiam
mentos, treino a cais e, finalmente, o treino de após a atracação em Kiel. Estes dias foram os ne- ocorrências inesperadas, mas também pela par-
mar, culminando este período com a entrega do cessários para retirar todo o material de bordo, ticularidade destas novas ocorrências também
NRP Tridente em 17 de julho de 2010. Desde assegurando assim as pré-condições para docar. o serem “novas” para o estaleiro e subcontra-
então, a Marinha fez um esforço no sentido de tantes, não existindo assim respos-
proporcionar ao navio o máximo tas prontas e soluções estudadas.
tempo de mar, permitindo à guarni- Surgiam assim os primeiros grandes
ção observar a estabilidade dos sis- impactos no planeamento. Agora
temas, componente cada vez mais que o modelo deixava de funcionar,
importante quanto mais complexo devido à imponderabilidade, havia
é o sistema. que repensar os processos.Analisar
consequências, estudar desfechos,
A navegação de 11 dias até Kiel tomar decisões e implementar so-
foi calma, com o treino próprio ine- luções, foram grandes consumido-
rente a uma unidade naval. À altu- res de tempo.Tempo que ninguém
ra, estava em estudo a validação tinha, mas que todos insistiam em
de uma carreira acústica portátil, dar, com o objectivo máximo de
podendo vir a ser utilizada em ter- largar de Kiel, deixando o NRP Tri-
ritório nacional, diminuindo desta dente nas condições previstas. Até
forma os custos associados a des- na Alemanha, com os fabricantes
locar um navio e sua guarnição ao de componentes/órgãos mais aces-
estrangeiro, para a execução dos síveis, a logística não deixou de dar
testes acústicos. Assim, o NRP Tri- A docagem é sempre uma manobra diferente, um ar da sua graça. Devido à especificidade e
dente foi incumbido de testar esta não só pela muito reduzida margem para erro, complexidade do material necessário, o tem-
carreira, tendo ido para o largo da ilha dina- mas pelo sentimento marinheiro inerente a re- po de entrega era moroso, condicionando so-
marquesa de Bornholm, área mais adequada à tirar um navio do seu ambiente natural, a água. bremaneira a data de aprontamento do navio.
realização das provas acústicas com este equi- A verdade é que após sete meses de estaleiro, Com a ideia de que o planeamento estava a
pamento de medida que exige pouco ruído, dezanove fainas, três docagens e três alagens, mudar, deu-se início à sensibilização da guarni-
pouca navegação de superfície na área e fundos esta manobra acabou por ser só isso mesmo,
ção, comandos operacionais e administrativos
com pouco gradiente. mais uma manobra. para as eventuais consequências nas datas de
As desmontagens foram iniciadas no primei- disponibilidade do navio. Para quem estava em
As provas acústicas correram dentro da nor- ro dia. Inicialmente, no exterior, depois no in- Kiel há já 2 meses, esta antecipação do proble-
malidade, tendo o NRP Tridente atracado em terior, e passada uma semana o NRP Tridente ma parecia-nos óbvia e se na área do material
Kiel a 26 de agosto, para verdadeiramente dar estava irreconhecível. Fazia-nos recordar o NRP os imponderáveis fossem aceites, na área do
início à tão esperada Docagem de Garantia. Tridente, no seu tempo de construção, aquando pessoal poderia ser feito ainda alguma coisa.
em estaleiro. Apesar de triste, esta fase de des- Estabeleceram-se contactos com o estaleiro e
De forma muito resumida, o objetivo inicial montagens foi de extrema importância, tendo a Marinha, no sentido de garantir que os mili-
desta docagem, com duração prevista de três permitido identificar avarias e colmatar falhas tares pudessem vir a Portugal pelo Natal e Ano
meses, consistia em executar três ações: a ins- que, com a utilização dos sistemas, mais cedo Novo, até porque esta estadia em Portugal ali-
peção a seco do estado geral do navio após ou mais tarde acabariam por surgir. Certamen- viaria os custos referentes ao pessoal, imputa-
um ano de operação (peça fundamental do te existiram constrangimentos em tempo, mas dos ao projeto.
contrato, e com duração prevista de 10 dias); a atempada deteção de falhas salvaguardou o Kiel, outubro de 2011. Da mesma manei-
a integração do sistema de comunicações sa- acionamento das condições de garantia e, ine- ra que se vislumbra o cair massivo das folhas
télite SHF SATCOM (duração de 3 meses); a rentemente, os interesses do Estado português. das copas das árvores, recolhem-se ensina-
modificação dos circuitos e órgãos externos Para além disso, permitiu, ainda, uma muito mentos importantes sobre o novo modelo da
ao circuito de óleo hidráulico (duração de 1,5 profícua parceria com o estaleiro e demais fa- manutenção preventiva e corretiva aplicada à
meses). À data da docagem do NRP Tridente, bricantes no desenvolvimento de soluções téc- classe de submarinos “Tridente”. Reveem-se
encontrava-se como Chefe da PNID1 o CMG nicas inovadoras, sendo reconhecido, também as regras para fornecimento de sobressalentes,
EMQ Almeida Machado que, com a sua expe- aqui, a valia do contributo da Marinha. observa-se o esforço e as dificuldades senti-
riência de longos anos na antiga IRS, conseguiu Permitam-me os leitores, desde já, referir que das por um estaleiro de nome mundial, como
demonstrar ao estaleiro HDW a importância
de, nos 3 meses previstos para a instalação das
comunicações satélite, aproveitar e fazer um
conjunto de trabalhos necessários e que cer-
8 JULHO 2012 • REVISTA DA ARMADA