Page 9 - Revista da Armada
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a HDW, em dar bom termo a este projeto, e estas dificuldades, estávamos perante mudanças nos lembremos disso mesmo, são automatismos
tenta-se extrapolar a capacidade do AA-SA, radicais na climatologia. que facilitam, mas não podemos pura e simples-
ou qualquer outro estaleiro em Portugal para mente abdicar do conhecimento de controlar os
fazer o que ali estava a ser feito. Em meados Mais uma semana que passa, esta muito mais sistemas em modo manual/local. Este relembrar
de Outubro, a HDW recebe o Diretor de Na- rápido do que era desejável, e quase sem nos exige treino das e para as guarnições, indepen-
vios, CALM Garcia Belo, acompanhado pelo apercebermos estávamos outra vez embrenha- dentemente da condição em que o navio se
CMG EMQ Costa Campos, para tratar de as- dos em acções de manutenção, acompanha- encontra. Só ao sexto dia de treino a organiza-
suntos relacionados com a Lista de Fabricos a mento de trabalhos e aprontamento e restabe- ção e os processos começaram a funcionar de
realizar durante a Docagem de Garantia e ver lecimento dos sistemas, setting to work. Durante forma natural, deixando o Comandante e todos
in loco a intervenção levada a cabo no NRP esta fase continuam a ocorrer ajustes ao pla- os que navegam num submarino mais descan-
Tridente. A visita teve a duração de dois dias, e neamento e ao normal desenrolar do Projeto. sados. Estávamos em condição de iniciar uma
da agenda constou um ponto de situação dos Foram estudadas causas, estabelecidos planos nova etapa, conduzir o navio nas provas de acei-
fabricos, uma visita às instalações do estalei- de contingência, identificadas soluções mesmo tação dos sistemas intervencionados durante a
ro, uma apresentação sobre as capacidades e que não definitivas, com o objetivo de minimi- Docagem de Garantia.
potencialidades do estaleiro e uma visita de- zar os impactes. O facto de se terem de identifi-
talhada a bordo onde foi exposta a complexi- car as potenciais causas, de não existir histórico As provas de mar no Skagerak, realizadas en-
dade das intervenções em curso. sobre as ocorrências identificadas, dos sistemas tre 20 e 24 de fevereiro, correram dentro da nor-
serem muito complexos, da necessidade de malidade, muito embora o mar, vento e baixas
Pouco a pouco as correções às anomalias tempo para se encontrarem e implementarem temperaturas quisessem assinalar a sua presen-
detetadas vão sendo resolvidas, umas atrás de soluções técnicas, da necessidade de manufa- ça.Acabámos por fazer todas as provas previstas
outras, umas de forma mais demorada, outras tura ou fornecimento de sobressalentes cujo exceto o teste ao SHF SATCOM, levando ao seu
de forma mais célere, mas todas tendo exigi- tempo de fornecimento é elevado, foram fato- adiamento para a viagem de regresso a Lisboa.
do muito tempo dispendido em reuniões que res que acresceram complexidade ao objetivo
apoiaram o estudo, implementação e avaliação de minimizar o impacte do atraso. Terminadas as provas, regressámos a Kiel,
das medidas corretivas. diretos ao denominado lift, instalação em terra
Inícios de Fevereiro, agora com menos frio,
A 24 de novembro, desloca- ora com neve, ora com frequentes aguaceiros, com um princípio de funcio-
-se oficialmente a Kiel o Che- o NRP Tridente ia ficando pronto e surgiam ou- namento semelhante à de um
fe da MCSUB-PNID, CALM tras necessidades. O aprontamento do navio elevador por cabos, que eleva
Nunes Teixeira, no âmbito das para efetuar provas de mar aos sistemas/equi- da água o submarino assente
competências do Contrato de pamentos no Skagerak.Apesar da guarnição ter numa plataforma. Passadas 3
Aquisição, para dirimir assun- antecipado e trabalhado em avanço, acabamos horas, com o navio já a seco, tí-
tos diversos em curso, tendo sempre por chegar à altura e se soubéssemos
tí- nhamos mais uma vez à nossa
ainda tido oportunidade de nhamos antecipado ainda mais os preparativos. espera cerca de 20 técnicos do
visitar o navio e ser notificado Ora porque o estaleiro não libertava o navio, estaleiro e empresas subcontra-
in loco das anomalias surgi- não permitindo por isso que fizéssemos o nosso tadas, desejosos para entrar a
das e dos estudos e soluções trabalho, ora porque tínhamos que implemen- bordo e iniciarem os trabalhos
em curso. tar um plano de treino suficientemente exigente que se tinham comprometido
para repor padrões de desempenho, fruto de 6 a realizar para que os sistemas
À semelhança do leitor que meses sem navegar. Dias de semana e de fim de estivessem operacionais para
desfolha página a página esta semana, o plano de treino foi muito abreviado, o nosso regresso a Lisboa. O
revista, também os dias foram 7 dias. Consistiu numa fase inicial em palestras, fim era agora uma meta que a
sendo desfolhados pelo tempo. seguidas de treino prático a bordo, incremen- guarnição do NRP Tridente já
Estávamos agora em finais de tando de forma estruturada o grau de dificulda- vislumbrava.
novembro, princípios de dezembro e o clima de aplicado aos exercícios LA e compilação e Os poucos trabalhos pendentes iam sendo
muda substancialmente. esclarecimento do panorama de superfície. As resolvidos uns atrás dos outros, desta vez sem
consequências de ter uma guarnição separada e percalços, tendo todas as ações de manuten-
Estão agora -150C, com o típico wind chill de sem capacidade de treinar, durante 6 meses, foi ção corretiva e preventiva sido efetuadas e o
-210 C. As tomadas de água, os lagos e o fiorde notória. Por via da proliferação de sistemas de navio entregue à guarnição para novamente
congelam deixando somente deslumbrar água automação e controlo, as guarnições são cada preparar o “nosso” Tridente para a tão espe-
quando um quebra-gelo passa permitindo deste vez mais tentadas a utilizar os automatismos, rada viagem de regresso às águas nacionais,
modo a atracação do cruzeiro Color Line (ferry porque de facto são elementos facilitadores na viagem essa que se iniciou em 29 de março e
que faz regularmente trânsito Kiel-Oslo). Não operação. Não é que haja mal nisso, desde que terminou a 09 de abril de 2012, tendo o NRP
só os militares sofreram com estas mudanças, Tridente pelo caminho, na zona do Skagerak,
também as actividades a bordo sofrem com es- realizado as provas ao SHF SATCOM com su-
tas mudanças climáticas. São necessários equi- cesso. Por muito mau tempo que tivéssemos
pamentos externos para aquecer os fluidos, ar apanhado, sem possibilidade de entrar em
e óleo hidráulico, no interior do navio, não se imersão devido aos fundos baixos do Mar do
podem deixar bidões de óleo no exterior do na- Norte, a guarnição estava satisfeita pelo senti-
vio, sob o pretexto de não termos como o des- mento de missão cumprida.
congelar no dia seguinte. Após 8 meses de missão, muitas vezes sob
condições de trabalho árduas, longe das famí-
O Natal e o Ano Novo aproximam-se a uma lias, temos agora novo desafio: zarpar, em breve,
velocidade vertiginosa. Sente-se a ansiedade de com destino aos EUA, para nova missão. Mas
ir a casa, após 4 meses de missão. Não tanto essa será outra história a contar oportunamente!
pelo tempo que passou, afinal foram só 4 meses,
mas principalmente pelo que se “desconfiava”
faltar. Estávamos agora a entrar na fase de res-
tabelecimento e provas aos sistemas, processo Colaboração do COMANDO DO NRP TRIDENTE
que impõe sempre acertos finais.Alguns eram já
esperados, porque todos os que andam no mar Notas
sabem que parar sistemas complexos durante 1 PNID – Portuguese Navy Inspection Delegation; Dele-
meses a fio exige posteriormente muito traba-
lho e dedicação para os estabilizar.A acrescer a gação da Missão de Construção de Submarinos (MCSUB)
para a inspeção e acompanhamento dos trabalhos a bordo.
2 DN-DS – Direção de Navios – Divisão de Submarinos.
REVISTA DA ARMADA • JULHO 2012 9