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REVISTA DA ARMADA | 512


           Seguiu-se o trânsito para a área de operações, cumprindo com o
          estabelecido no SUBNOTE  e correspondente MOVING HAVEN . À
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          navegação em águas nacionais seguiu-se a passagem do STROG .
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          A passagem deste estreito em imersão constitui-se como um de-
          safio sempre aliciante para o submarinista, quer pelo facto de ser
          uma das áreas do globo com maior densidade de navegação, quer
          por  apresentar  características  oceanográficas  únicas  e  determi-
          nantes para um submarino em imersão. As diferentes camadas
          de água com características distintas (em densidade, salinidade e
          temperatura) e as correntes muito particulares (dependentes tan-
          to da profundidade como do período da maré), exigem um plane-
          amento rigoroso, envolvendo diversos cálculos para se conseguir
          determinar a melhor hora e cota para a passagem em imersão.
           Depois  de  ultrapassado  com  sucesso  este  primeiro  evento,
          o trânsito prosseguiu pelo Mar Mediterrâneo, agora a navegar
          com a costa norte africana à vista no periscópio, contemplando
          as paisagens de Marrocos, Argélia e Tunísia.
           Tendo  disponíveis  comunicações  satélite  e  o  sistema  de  co-  Ao deixar o porto de Cartagena pela popa, o Arpão entrou em
          mando  e  controlo  dedicado  à  operação  instalado  a  bordo,  os   imersão para cumprir o restante trajeto para a Base Naval de Lis-
          últimos detalhes de coordenação com o EUNAVFOR MED FHQ ,   boa. Faltava apenas mais uma travessia do Estreito de Gibraltar
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          embarcado no ITS Garibaldi, foram facilmente acertados, benefi-  em imersão. Desta vez a corrente mostrava-se desfavorável, con-
          ciando-se da presença de um oficial submarinista português em-  firmando os cálculos feitos antecipadamente. Mas impunha-se a
          barcado no navio-chefe, sendo o responsável pelo planeamento   chegada no dia 1 de setembro a Lisboa, não havendo a possibili-
          das operações com submarinos na força.              dade para adequar a hora da passagem do estreito com a maré
           Chegado à área de operações, o NRP Arpão, enquanto unidade   e correntes mais favoráveis. Assim, procurou-se a cota onde a
          em Associated Support , iniciou a execução das tarefas atribuídas   corrente era menos intensa, sendo os 100 metros o melhor com-
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          que, enquadradas na missão da EUNAVFOR MED , se centravam   promisso encontrado.
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          nas operações de recolha de informações , tendo que reportar toda   Volvidos mais alguns dias e eis que na alvorada do primeiro
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          a atividade (mercante, piscatória, militar ou outra de interesse) nas   dia de setembro, com a bóia nº 2 da barra sul do porto de Lisboa
          áreas atribuídas, contribuindo para a construção do designado Pat-  à vista, soa a ordem “Ar a todos, vamos para cima!”, seguida do
          tern of Life (PoL). Estas tarefas, intrínsecas às missões típicas atribu-  característico (e ensurdecedor) ruído do ar comprimido a ocupar
          ídas aos submarinos modernos, requerem um intenso trabalho de   o lugar da água do mar nos tanques de lastro do submarino, le-
          toda a guarnição na compilação, correlação e análise do considerá-  vando o Arpão para a superfície para iniciar a aterragem ao porto
          vel volume de informação obtida por todos os sensores próprios,   de Lisboa, demandando a Base Naval.
          impondo-se uma grande coordenação e disciplina para a obtenção   30 dias passados, 700 horas de navegação e quase 4000 mi-
          de resultados positivos. Acresceu a esta exigência o facto de se ope-  lhas náuticas percorridas, o NRP Arpão avistou finalmente o en-
          rar junto a uma costa imprevisível, onde a deteção de um submari-  fiamento do Canal do Alfeite… Cabos passados às 09h20, os 34
          no poderia ter repercussões gravosas para a Operação.   militares da guarnição juntaram-se às suas famílias para umas
           Cumprida a patrulha das áreas atribuídas e o apoio à EUNA-  merecidas férias.
          VFOR MED Operação SOPHIA, havia que efetuar o trânsito de
          regresso a casa, praticamente invertendo o sentido do planea-
          mento efetuado inicialmente. Antes, no entanto, a escala de um      Colaboração do COMANDO DO NRP ARPÃO
          porto  sobejamente  conhecido  dos  submarinistas:  Cartagena.
          Esta cidade do sul de Espanha, além de ser a base dos submari-
          nos espanhóis, é destino de todos os que, ao terminar o curso de   Notas
          especialização em submarinos, fazem a requerida certificação de   1   Política Externa e de Segurança Comum (PESC) que abrange todos os domínios da
          escape livre. Um fim de semana de recobro foi a desejada lufada   política externa, bem como todas as questões relacionadas com a segurança da
                                                                União Europeia (UE).
          de ar fresco após as mais de 540 horas de imersão consecutivas   2   Ordem dada que inicia o procedimento de entrada em imersão, fechando o sub-
                                                                marino ao exterior.
          antes de efetuar o derradeiro trânsito de regresso a casa.  3   Submarine Notice — mensagem de roteamento de submarinos para efeitos de
                                                                PMI (Prevention of Mutual Interference).
                                                               4   Área, geralmente móvel, atribuída a um submarino.
                                                               5   Strait Of Gibraltar.
                                                               6   Comando da operação embarcado, designado por Forward Head-Quarters.
                                                               7   Nível de comando e controlo em que a unidade apoia um determinado comando
                                                                na execução de determinadas tarefas, não alterando, no entanto, a entidade que
                                                                detém o seu controlo operacional.
                                                               8   De acordo com o artº 1º da DECISÃO (PESC) 2015/778 do Conselho de 18 de
                                                                maio de 2015, a missão da EUNAVFOR MED destina-se a “[…] contribuir para o
                                                                desmantelamento do modelo de negócio das redes de introdução clandestina
                                                                de migrantes e de tráfico de pessoas na zona sul do Mediterrâneo central […]”
                                                               9   Mais concretamente conduzir operações ISR (Intelligence, Surveillance and Re-
                                                                cognisance).




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