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REVISTA DA ARMADA | 539












          extensas linhas de comunicação marítima de abaste-  Aeronave de fabrico chinês descolando do porta-aviões Lioaning.
          cimento da China – que a separam do Golfo Pérsico
          e da África.
           •  O  Golfo  Pérsico  e  o  Mediterrâneo  podem  vir  a
          “incendiar-se”  com  uma  série  de  guerras  civis  e  de
          guerras  inter-estatais  determinadas  pela  conflituali-
          dade entre muçulmanos – resultantes de diferenças
          religiosas (xiitas versus sunitas, fundamentalistas con-
          tra reformistas), civilizacionais (árabes contra persas),
          políticas  (regimes  republicanos contra  monarquias,
          ambos com problemas de sucessão difíceis de resol-
          ver) e ainda em consequência dos conflitos que se vão
          desenrolar em interação com o antagonismo de vários
          Estados de maioria  muçulmana face a Israel.

           Três Oceanos vão “ganhar” relevância até 2030, gra-
          ças a esta dupla evolução:                                                                           DR
           • O Índico vai tornar-se no Oceano mais importante
          do ponto de vista estratégico, quer pelo acesso que permite ao   vista  geoeconómico,  pela  excecional  disponibilidade  nas  suas
          Golfo Pérsico, quer pelo papel central que vai ocupar na confli-  margens e no seu interior, de água/ alimentos, minérios e ener-
          tualidade interasiática entre a China e a Índia, que vai ganhar   gia, importantes quer para a Ásia – China e Índia –, mas também
          uma natureza principalmente marítima (e, quando terrestre, será   para os EUA (no que respeita a energia e a certos minérios).
          subordinada às prioridades marítimas).
           • O Ártico vai tornar-se um espaço geopolítico fundamental –   O Atlântico  Norte vai  perder importância  estratégica, não  só
          em torno da sua posição estratégica, das suas riquezas energé-  devido ao fim da URSS e à redução do risco representado pela
          ticas e das novas linhas de comunicação marítimas – podendo   Rússia para os aliados europeus dos EUA, mas sobretudo pela
          ou não vir a estruturar uma nova convergência entre os EUA, o   provável evolução das relações entre os EUA e a Rússia – caso
          Canadá e a Noruega, por um lado, e a Rússia, por outro, atraindo   esta se traduza numa melhoria, travando e revertendo a parceria
          igualmente o Japão e permitindo assim uma reformulação par-  estratégica com a Rússia desejada pela China:
          cial das parcerias da Rússia, hoje centradas na China.     • Para poder estruturar a nova “Rota da Seda” terrestre, inte-
           • O Atlântico Sul vai tornar-se um Oceano central do ponto de   grando a Ásia Central ex-soviética nesse projeto e atravessando a
                                                                          Eurásia para se relacionar privilegiadamente com
                                                                          a Europa (ou parte dela), sem ter que utilizar os
                                                                          Oceanos, onde os EUA ainda são dominantes.
                                                                           • Para poder aceder ao Ártico, por imperativos
                                                                          estratégicos,  integrando  a  Gronelândia  após  a
                                                                          sua independência da Dinamarca na sua esfera
                                                                          de interesses e colocando a sua força de subma-
                                                                          rinos nucleares portadores de mísseis balísticos
                                                                          com carga nuclear (SLBN) mais próxima dos EUA.
                                                                           • Para facilitar uma redução de tensões entre a
                                                                          China e a Índia, utilizando a Rússia como facilita-
                                                                          dora para atingir esse objetivo (já parcialmente
                                                                          atingido com a integração da Índia na Organiza-
                                                                          ção de Cooperação de Xangai).

                                                                           Mas o Atlântico Norte vai manter a sua impor-
                                                                          tância  geoeconómica,  embora  de  forma  dis-
                                                                          tinta da atual – pois pode vir a ser o espaço que
                                                                          dividirá a Europa – entre uma “Europa Carolín-
                                                                          gia”, centrada na Alemanha e na França, e uma
                                                                          Europa  Atlântica  e  Mediterrânica  de  influência
                                                                          anglo-saxónica, em torno da qual a NATO poderá
                                                                          permanecer, agora mais centrada na segurança
                                                                          da fronteira sul da Europa.
                                                                                                              
                                                                                               Prof. Dr. José Félix Ribeiro


                                                                                                     ABRIL 2019  11
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