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REVISTA DA ARMADA | 544
AS BERLIET-TRAMAGAL
DOS FUZILEIROS
A Berliet-Tramagal foi montada em Portugal entre 1964 e 1974, sob licença, pela Metalúrgica Duarte Ferreira, SARL (MDF),
com instalações situadas no Tramagal. É uma viatura pesada baseada no modelo comercial francês da Berliet “Gazelle”, de
1956, tendo sido especifi camente modifi cada e reforçada, originando os modelos da série “GBC KT”, para uƟ lização pelo
Exército francês no confl ito da Argélia.
CARACTERÍSTICAS E ESPECIFICAÇÕES
oi adotada como viatura táƟ ca de transporte de carga e pes-
Fsoal na Guerra do Ultramar, atendendo às necessidades das
Forças Armadas Portuguesas (FFAA), nomeadamente do Exér-
cito, por forma a subsƟ tuir, nas Unidades em comissão de ser-
viço, meios motorizados obsoletos – caso das viaturas “GMC”
(da General Motors, do período da 2ª Guerra Mundial) e das
viaturas pesadas civis de mercadorias militarizadas com simples
tração traseira (Mercedes, Scania e Volvo).
Tem como principais caracterísƟ cas: ser uma viatura simples e
desprovida de comodidades; de baixo custo de produção e fácil
manutenção de 1º escalão; possuir capacidade Todo-o-Terreno
e tração integral; dispor de ângulos de ataque e saída muito ele-
vados atendendo à sua dimensão.
O modelo “GBC 8 KT”, com tração 6x6 de rodado simples, já
incorporava 50% de componentes de fabrico nacional; foi bem
aceite pelo Exército, considerando a mais-valia do desempenho
Todo-o-Terreno em relação ao modelo anterior de tração 4x4.
Os modelos da série “GBC KT” Ɵ nham a famosa parƟ culari-
dade de o motor ser policarburante, isto é, mediante um maní-
pulo seletor de combusơ vel, trabalhava com gasóleo, gasolina
ou outros carburantes - petróleo refi nado, querosene, óleo de
motor, aguarrás, álcool, óleo de İ gado de bacalhau, diluente,
brilhanƟ na, parafi na e óleos vegetais.
Em 1968, com o intuito de simplifi car, aumentar e baratear
o processo de produção, o fabricante nacional concebeu o
modelo “GBA MT” com tração 6x6, com menos peso e dimen-
são e ligeiras diferenças exteriores em relação ao modelo
“GBC”, fruto da experiência do comportamento da viatura nos
Teatros de Operações africanos.
As diferenças mais notórias são: tampa do motor (capô) mais
curta e simplifi cada, com ângulos mais direitos; reposição dos
faróis dianteiros; introdução de pequenas modifi cações no
depósito de combusơ vel e instalação de aberturas laterais do
comparƟ mento do motor por forma a facilitar a venƟ lação e
evitar o sobreaquecimento, atendendo ao clima de uƟ lização.
As viaturas “GBC” e “GBA” eram muito apreciadas pelas tro-
pas portuguesas em África pela sua robustez, força do motor,
capacidade de passagem a vau de cursos de água até 1,2 m
(GBC) ou 1,5 m (GBA) de profundidade (graças à estanquicidade
do motor e depósito de combusơ vel) e pelo guincho mecânico
(permiƟ a ter saída para a frente e traseira da viatura, facili-
tando a resolução de problemas no terreno).
A robustez da carroçaria da viatura, em aço, oferecia uma
certa resistência à defl agração de engenhos explosivos (minas
AnƟ pessoal / AnƟ carro / fornilhos), que se refl eƟ a na mais-va- na função de “rebenta-minas”, seguindo à frente das colunas
lia de contribuir para a redução de baixas e no inspirar de con- motorizadas, sendo apetrechadas com diversos sacos de areia
fi ança e elevar o moral das Forças em campanha. de modo aumentar o peso da viatura e absorver o impacto da
Por apresentar o eixo dianteiro adiantado em relação à posi- explosão, tendo por regra como único ocupante o próprio con-
ção do condutor, muitas Berliet-Tramagal foram empregues dutor.
SETEMBRO/OUTUBRO 2019 17