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REVISTA DA ARMADA | 544


           Nos Fuzileiros, durante grande parte do ano operacional, as via-  OUTRAS UTILIZAÇÕES ATÉ AO ABATE
         turas circulavam desprovidas do toldo de lona da cabine e da tra-
         seira, da respeƟ va armação e das laterais do comparƟ mento de   Em junho de 1979, dada a premência numa melhor raciona-
         carga junto ao chassis; os estrados dos bancos eram colocados   lização dos meios atribuídos, foram edifi cadas, na dependên-
         de forma a que as tropas transportadas permanecessem costas   cia do CCF, diversas Unidades – caso da Unidade de Apoio de
         contra costas, por forma a permiƟ r abandonar rapidamente a   Transportes TáƟ cos (UATT), que agregou as Berliet-Tramagal e
         viatura em caso de necessidade (esta confi guração era anterior-  as restantes viaturas táƟ cas ligeiras e pesadas de todas as Uni-
         mente uƟ lizada para reação a emboscadas).           dades do Corpo de Fuzileiros (que apenas fi caram com as viatu-
                                                              ras ligeiras administraƟ vas à sua responsabilidade).
         MILITARIZAÇÃO                                         Duas Berliet-Tramagal dos Fuzileiros foram uƟ lizadas na ins-
                                                              trução de condução (formação operacional) – uma na Escola de
           Em 1977, quando as viaturas ainda se encontravam sob tutela   Fuzileiros (EFZ) e a outra no G1EA.
         do BF3, por iniciaƟ va do então Comandante do Batalhão, Comte.   Em 1994 a GBC “Pronto-Socorro” com grua mecânica “MDF”
         Alves da Rocha, foram algumas delas militarizadas nas ofi cinas   procedeu ao reboque de três viaturas blindadas anİ bias Chai-
         do Serviço de Assistência Ofi cinal (SAO) da Força de Fuzileiros do   mite, dos Fuzileiros até a Secção de Inúteis da Direção de Abas-
         ConƟ nente (FFC). No senƟ do de transformar cada viatura num   tecimento da Marinha (DA).
                                                               Todas as viaturas GBC e GBA foram abaƟ das ao efeƟ vo entre
                                                              1996 e 1999. Embora uƟ lizadas por pouco mais de duas déca-
                                                              das, fi caram para sempre na História dos Fuzileiros e na memó-
                                                              ria de várias gerações dos “Filhos da Escola”.
                                                               A MDF também montou a Berliet-Tramagal nas versões de
                                                              camião-ofi cina militar e de camião-cisterna de 5000 litros para
                                                              hidrocarbonetos, versões essas que os três ramos das FFAA poste-
                                                              riormente adaptaram para diversas funções, como a de suportar
                                                              certas cargas, sistemas de armas e/ou equipamento específi co.
                                                               Várias GBC e GBA transitaram posteriormente das FFAA para
                                                              diversas corporações de Bombeiros (que as adaptaram ao com-
                                                              bate a incêndios) e para empresas e parƟ culares (que as modi-
                                                              fi caram para as mais variadas uƟ lidades). Algumas delas encon-
                                                              tram-se atualmente na posse de colecionadores de viaturas
                                                              militares.


                                                              RECUPERAÇÃO E MUSEALIZAÇÃO
                                                               A viatura GBA 6MT de matrícula “AP-19-32” (a penúlƟ ma do
                                                              seu modelo a entrar ao serviço nos Fuzileiros, em 1975, sendo
                            VELOCIDADE           QUANTIDADES
    PESO       CARGA ÚTIL             AUTONOMIA               abaƟ da em 1999) começou a ser recuperada pela DT em 2014,
                             MÁXIMA              PRODUZIDAS
                                                              altura em que transitou da Secção de Inúteis da DA para o
           4 TONS ou 20 Militares                             “Núcleo Museológico de Viaturas AnƟ gas da Marinha”, tendo
   5980 KG                    82 Km/h   800 Kms     1670
            Equipados + Condutor                              em linha de conta que se tratava de uma viatura emblemáƟ ca
                                                              das FFAA Portuguesas. O Regimento de Manutenção do Exér-
           5 TONS ou 20 Militares
   8370 KG                    85 Km/h   800 Kms     972       cito, no Entroncamento, colaborou na recuperação através da
            Equipados + Condutor
                                                              cedência de algumas peças e do toldo de lona traseiro.
           4,5 TONS ou 18 Militares                            Já recuperada, foi apresentada publicamente, pela primeira
   7150 KG                    85 Km/h   800 Kms     907
            Equipados + Condutor                              vez, nas comemorações do “Dia da Marinha de 2017” na Póvoa
                                                              do Varzim, fazendo, por certo, recordar tempos passados a
         “vetor de mulƟ plicação de forças” (juntar ao respeƟ vo potencial   diversos cidadãos, e deliciando os entusiastas de viaturas clás-
         de “massa” e “velocidade”, o “apoio de combate”) foram instala-  sicas militares e modelistas.
         das na sua estrutura armas de apoio de fogos – montados repa-  Futuramente, a DT pretende recuperar o camião-cisterna
         ros nas cabines para suportar metralhadoras-ligeiras HK MG-42/  de Limitação de Avarias da Marinha Tramagal TT13/160 6x6
         MG-3, assim como um artefacto na traseira para acoplar os pra-  Turbo, de 13 toneladas, também fabricado pela MDF, de matrí-
         tos-base de morteiros de 81 mm.                      cula “AP-26-25”, e que esteve destacado na EFZ.
           O mesmo Ofi cial já havia sido encarregado da construção da pista   No que concerne ao modelismo, existe um “kit” de fabrico
         de treino táƟ co de Fuzileiros condutores (FZV) de viaturas de tra-  nacional e edição parƟ cular da autoria do Major Nogueira
         ção total existentes na FFC, treino que incluía a responsabilização   Pinto, modelista e Ofi cial do Serviço de Material do Exército
         de cuidar do grau operacional da viatura atribuída e da respeƟ va   Português, que permite montar na escala 1/35 a Berliet-Trama-
         manutenção de 1º escalão (binómio condutor/viatura táƟ ca). Esta   gal GBC 8 KT 6x6.
         pista situava-se no interior do perímetro da FFC Unidade, com iní-  Agradece-se a pronta ajuda de vários civis e militares na com-
         cio ao fundo da parada junto da Enfermaria; era consƟ tuída por   pilação de dados, documentos, fotos e testemunhos sobre as
         obstáculos consecuƟ vos, colocando à prova a coragem, determi-  Berliet-Tramagal e o seu uso na Briosa pelos seus Fuzileiros. A
         nação e destreza dos FZV e testando os limites técnicos das via-  todos Bem Hajam!
         turas. O treino táƟ co dos FZV também era realizado nas praias do
         litoral próximo, tendo envolvido estudos de percurso viável entre                         Dr. Ricardo Morais
         marés nas praias da Costa da Caparia até ao Cabo Espichel.


                                                                                           SETEMBRO/OUTUBRO 2019  19
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