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REVISTA DA ARMADA | 550
OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
E A ESTRATÉGIA NO PACÍFICO
2ª PARTE
OS PLANOS DE COR DR
(COLOR PLANS)
principal tarefa da “Comissão Conjunta” (Joint
A Board) era a criação e desenvolvimento de pla-
nos de guerra conjuntos. A inicia va par u do general
Adna R. Chaff ee, Chefe do Estado-Maior do Exército,
que, em abril de 1904 e na sequência do ataque do
Japão à Rússia, sugeriu a elaboração de um conjunto
de planos que permi ssem a ar culação entre a Ma-
rinha e o Exército. Estes planos deveriam ter por base
os estudos desenvolvidos pelos estados-maiores do
Exército e da Marinha.
Na sequência da proposta do general Chaff ee são
então elaborados os designados Planos de Cor (Color
Plans), cada um procurando responder a uma amea-
ça concreta. Cada cor correspondia a um determinado
país: “Red” para a Grã-Bretanha, “Black” para a Alema-
nha, “Green” para o México e “Orange” para o Japão.
Com base nestes planos conjuntos, os chefes de cada
ramo emi am as dire vas para o desenvolvimento dos
seus próprios planos de operações específi cos. Na ver-
dade, em muitos casos, os primeiros planos de guerra eram pouco Japão. A defesa das ilhas foi reconhecida como dependente da es-
mais que exercícios abstratos e nham pouca relação com a reali- quadra, que teria de zarpar da região das Caraíbas, fazer a volta do
dade. Contudo, no caso do Japão, o plano “Orange” foi man do sob Cabo – o canal do Panamá ainda não estava concluído – e atravessar
constante revisão e exercitado com alguma frequência, tendo em todo o Pacífi co. Ao longo da rota teria de garan r a sua sustentabi-
consideração as alterações no cenário polí co internacional. lidade logís ca, usando a base naval em Pearl Harbor – ainda em
O primeiro teste ao plano “Orange” ocorreu no verão de 1907, construção – e como base secundária, a ilha de Guam, es mando-se
quando a tensão entre os Estados Unidos e o Japão a ngiu o clímax que demorasse entre três a quatro meses a chegar às Filipinas.
na sequência da vitória japonesa sobre a Rússia em 1905 e da polí ca De facto, a questão das bases no Pacífi co havia sido deba da pela
de segregação decretada pelo “Conselho Escolar” de São Francisco “Comissão Conjunta” e por várias comissões do Congresso, tornan-
em 1906. De facto, a guerra entre os dois países parecia inevitável, do-se mais que evidente ser necessário tomar uma decisão urgente
pelo que a defesa dos interesses americanos no Extremo Oriente, sobre o local onde estabelecer um grande ponto de apoio às forças
especialmente das recém-adquiridas ilhas Filipinas, se tornou uma militares. O debate fazia-se em torno de duas possíveis localizações:
questão central para a administração americana. Filipinas ou Havai. Embora o Exército vesse preferido a solução Fili-
A 18 de Junho do mesmo ano, com a concordância de Theodore pinas, em janeiro de 1908 a decisão foi para a concentração de meios
Roosevelt, a “Comissão Conjunta” fez uma declaração: “Os Estados no Havai. Assim, a grande base de apoio logís co seria construída
Unidos são compelidos a uma estratégia defensiva no Pacífi co e man- em Pearl Harbor, não só porque a sua localização apresentava boas
terão esta a tude até que os reforços possam ser enviados”. Esta vi- condições para a projeção de forças navais em todo o Pacífi co, mas
são, adotada por necessidade em 1907, acabou por se tornar a pedra também porque, ao mesmo tempo, se acreditava que garan a a de-
angular da estratégia americana no Pacífi co e a base de todos os pla- fesa avançada da costa Oeste dos EUA. No entanto, e como reverso
nos que se seguiram, para fazer face a uma mais que provável guerra da medalha, com esta decisão a defesa das Filipinas foi relegada para
com o Japão. segundo plano, fi cando sujeita à capacidade de projeção da esquadra
para oeste, em caso de ataque japonês às ilhas.
FRAGILIDADES DA ESTRATÉGIA Se durante a “Grande Guerra” a tensão entre o Japão e os EUA
se manteve reduzida, muito devido ao facto de o Japão ter optado
A crise do verão de 1907 pôs a nu duas fragilidades rela vamente por entrar na guerra ao lado dos Aliados, a situação no pós-guerra
à estratégia americana para o Pacífi co: em primeiro lugar, a ausência alterou-se de forma radical. Entre 1919 e 1938 o avolumar dos di-
de uma base naval com boas capacidades de apoio logís co e, em ferendos e da desconfi ança mútua entre os dois países, em grande
segundo lugar, a escassez de recursos para uma defesa efi caz das Fi- parte resultantes dos tratados que se seguiram ao armis cio, foram
lipinas. ”As ilhas”, escreveu Roosevelt no auge da crise, “são o nosso pavimentando o caminho para uma mais que provável guerra que ia
calcanhar de Aquiles”. sendo adiada.
Na verdade, o primeiro plano “Orange” e as suas subsequentes re-
visões até 1913, não passaram de meras declarações de princípios Piedade Vaz
que, esperava-se, poderiam ser seguidos em caso de guerra com o CFR REF
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