Page 14 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 551


         D. JOÃO DE CASTRO




         UM VULTO DA NOSSA HISTÓRIA

         2ª PARTE


         Ainda recordarão que deixámos D. João de Castro a retemperar forças da sua bem-sucedida campanha de descerco de Diu, apenas man-
         chada pela perda do seu fi lho mais novo, D. Fernando, prometendo retomar neste número da Revista a evocação do nosso herói, agora
         já no Palácio do Governador na Cidade Velha de Goa. O Vice-Rei retomou, pois, a administração do Estado Português da Índia (EPI).


         D. JOÃO DE CASTRO NO EPI                             anos, que, entretanto, a precariedade da saúde e subsequente
                                                              falecimento deitariam por terra.
            o seu gabinete de trabalho no Palácio do Governador, na   Invocam-se aqui as palavras do Padre António Vieira, “… fazemos o
         DCidade Velha de Goa, D. João de Castro conciliou as aƟ vidades   que devemos, e a Pátria o que é costume ...”; eis um desabafo compro-
         de administração e políƟ co-militares, procedendo à elaboração   vado ao longo dos tempos, com mais de um bom servidor morrendo
         de registos bem reveladores da imagem detalhada dos territórios   de mal com os homens e de desilusão com o Rei. Assim aconteceu
         e estado das estruturas do Império Português do Oriente, refl ec-  também com D. João de Castro. Com ele parece culminar aquele que
         Ɵ da nas missivas endereçadas ao Reino. Esses escritos traduzem   é Ɵ do como o período épico da história da presença portuguesa no
         bem o seu desânimo perante a desorganização e a corrupção   Oriente, segundo uma abordagem social, políƟ ca e militar e, se a este
         que aceleravam o processo de desagregação imperial, então em   contexto, acrescentarmos uma perspecƟ va económica, poderemos
         curso, como se poderá deduzir deste seu desabafo ao monarca:   diagnosƟ car que, logo após o seu desaparecimento, irá iniciar-se a
         “… É grande o número de portugueses que nestas partes andam,   perda dessa infl uência imperial. Nesse senƟ do, bem merece que se
         porque de Sofala até à China não há coisa que deles não seja   caracterize toda a sua governança por uma grande prudência, sen-
         trilhada; mas os que andamos em seu serviço somos poucos e   Ɵ do de jusƟ ça e alheamento de intrigas, com uma políƟ ca assente
         mal ordenados …”. Mais do que não aceder a essas súplicas, D.   em dois pilares: o domínio dos mares e a manutenção de pontos
         João III, cônscio da sua brilhante governação, renovar-lhe-ia a   estratégicos em terra, aliás, na conƟ nuidade da opção maríƟ ma pros-
         confi ança, mediante a prorrogação do mandato por mais três   seguida por Afonso de Albuquerque, 30 anos antes.













































         In Roteiro em que se contem a viagem que fi zeram os portugueses no anno de 1541 parƟ ndo da nobre cidade de Goa atee Soez, que he no fi m e stremidade do Mar Roxo...


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