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REVISTA DA ARMADA | 551
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o navio para a sua próxima patrulha, abastecendo-o de combus- “a missão só acaba com cabos passados no Alfeite ”. Havia ainda
ơ vel, água e comida e proporcionando à guarnição o “carregar “desafi os” pela frente, antes da chegada a Lisboa.
das suas baterias” – repondo assim o descanso, a concentração, Pela primeira vez na história dos submarinos em Portugal, foi
a moƟ vação e elevando os índices de pronƟ dão para mais uma realizado na Base Naval de Cartagena, na manhã do dia 5 de
patrulha a efetuar num regime intenso e exigente de bordadas . março, o exercício ESCAPEX. Este exercício consiste na simulação
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Na segunda patrulha o navio parƟ cipou em simultâneo nas de um submarino acidentado assente no fundo do mar, onde,
operações SEA GUARDIAN e SOPHIA (da EUNAVFOR MED, consoante a profundidade a que se encontra o submarino, é rea-
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força naval da União Europeia). A Operação SOPHIA, para além lizada uma das duas manobras de escape possível do nosso sub-
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do apoio do Conselho Europeu (no âmbito da sua PESC ), conta marino, desta feita a “ascensão livre”.
também com o apoio das Nações Unidas através da Resolução Neste exercício de treino, um único fator não foi real – o sub-
2240 (2015) do seu Conselho de Segurança. O objeƟ vo da mis- marino estar acidentado. O Tridente entrou em imersão den-
são SOPHIA é “contribuir para o desmantelamento do modelo tro da bacia de manobra da Base Naval de Cartagena, fi cando
de negócio das redes de introdução clandesƟ na de migrantes e assente no fundo a uma profundidade de cerca de 12 metros. De
tráfi co de pessoas na zona sul do Mediterrâneo Central”. Nesta seguida, três militares da Esquadrilha de Subsuperİ cie realiza-
patrulha foram observados mais de 850 contactos. ram o escape, em segurança e com o auxílio de um mergulhador
da Marinha Portuguesa que fi cou dentro do tronco com cada um
TREINO DE ESCAPE dos elementos que ia escapar. No exterior encontravam-se em
pronƟ dão quatro mergulhadores da Marinha Real de Espanha,
A chegada ao porto de Cartagena marca o fi m da contribuição uma equipa médica munida de câmara hiperbárica portáƟ l e
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do submarino Tridente para a operação SEA GUARDIAN. Porém uma ambulância, caso fossem necessários.
Este exercício, inédito na história da Marinha Portuguesa, veio
aumentar o adestramento da guarnição do Tridente nos proce-
dimentos de ascensão livre – um procedimento que um subma-
rinista espera que nunca ocorra durante a sua missão.
ALX 20 E REGRESSO
Os militares do Tridente não podiam sair de Cartagena mais orgu-
lhosos com o feito alcançado – Ɵ nham feito “história”. Mas antes
de se rumar à pátria e logo avistar o Cristo Rei pelo periscópio
(força de expressão, já que a entrada da barra é feita à superİ cie),
havia ainda pela frente outro desafi o – o exercício ALCÂNTARA 20
(ALX 20).
O ALX 20, realizado nas águas atlânƟ cas, contou também com
a parƟ cipação da fragata Álvares Cabral e da fragata marroquina
ESCAPE LIVRE Mohammed VI (ver RA Nº 550) e consisƟ u no treino da interope-
rabilidade entre os meios portugueses e marroquinos. Envolveu
Há que, primeiro, vesƟ r o fato de escape, um fato dese- a realização de exercícios nas áreas da navegação, de comunica-
nhado especialmente para os submarinistas que, para além ções, de guerra anƟ aérea, de guerra de superİ cie e de guerra
de ter fl utuabilidade posiƟ va e permiƟ r a resistência às con- anƟ ssubmarina.
dições meteorológicas e oceânicas exteriores, contém uma Após se despedir das duas fragatas, o Tridente seguiu rumo a
balsa individual e possibilita a criação de uma bolha de ar casa. Ao atracar na BNL, totalizava 1140 horas de navegação,
em redor do tronco superior e cabeça do militar, para que 1100 das quais passadas em imersão. Para além da saudade e do
este possa respirar durante o escape e para que regresse à desejo de voltar aos braços das suas famílias e entes queridos,
superİ cie o mais rápido possível. era possível observar, no olhar da sua guarnição, o orgulho por
Uma vez entrado no tronco de escape, o militar enche o terem contribuído, todos os dias, com zelo, apƟ dão e honradez,
fato com ar, após o que é fechada a escoƟ lha inferior. De para que Portugal use o Mar e, acima de tudo, um senƟ mento
seguida é alagado o tronco, abrindo uma válvula de acesso enorme de missão cumprida.
ao exterior e mantendo outra válvula aberta – a de purga,
para que o ar possa sair enquanto o tronco é alagado.
Com o tronco praƟ camente alagado, é fechada a válvula de Colaboração da ESQUADRILHA DE SUBSUPERFÍCIE
purga e é iniciada a fase de equilíbrio, na qual o militar, den-
tro do tronco, passa a estar sujeito à pressão exterior. Esta Notas
é uma das fases mais delicadas e perigosas deste processo. 1 Terminologia usada pela NATO.
Com o equilíbrio alcançado – fi cando o tronco e o militar no 2 Estrangulamento de vias vitais de trânsito maríƟ mo, sem alternaƟ vas próximas
seu interior à mesma pressão que o exterior (pressões iguais) (ou inexistentes).
– é destravada a escoƟ lha superior. 3 Commander of Submarines NATO.
O pouco ar ainda existente no tronco e a bolsa de ar do fato 4 Regime conơ nuo (durante todo o período no mar) de turnos alternados de 6
do militar forçam a abertura da escoƟ lha superior e o militar horas de trabalho e 6 horas de descanso,
sai rapidamente do tronco em direção à superİ cie. Para que 5 Tem fi m previsto para abril, sendo subsƟ tuída pela Operação IRENE.
não seja causada embolia, o militar deverá cumprir o trajeto 6 PolíƟ ca Externa e de Segurança Comum (PESC) que abrange todos os domínios da
de subida expirando de forma conơ nua. Tal procedimento vai políƟ ca externa, bem como a segurança da União Europeia.
Porto bem conhecido pelos submarinistas, por ser onde se localiza a base de
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permiƟ r a expansão do ar existente nos pulmões à medida submarinos espanhola.
que a pressão diminui. 8 Gíria naval.
MAIO 2020 9