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REVISTA DA ARMADA | 566
NRP João Coutinho a alta velocidade. Aspeto da configuração original, incluindo a NRP Oliveira e Carmo, a 4ª corveta da 2ª série, a navegar com a configuração
posição do número de amura (princípios anos 70) (Foto do espólio do CALM ECN original. Entrou ao serviço em outubro de 1975 (Foto Museu de Marinha)
Rogério d´Oliveira/Museu de Marinha)
As corvetas da 2ª série foram navios mais evoluídos tecnicamente
e com melhores capacidades operacionais. De um projeto inicial
de 9 navios, foram construídos 4. Seguiu-se uma abordagem dife-
rente, uma vez que foram todas construídas no mesmo estaleiro.
Acresce que todos os sistemas e equipamentos foram escolhidos e
negociados diretamente pela Marinha aos respetivos fabricantes.
Para que o estaleiro fosse o único contratante, a Marinha cedeu
a posição contratual negociada para os diversos sistemas . Desta
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forma, foi conseguida a satisfação dos requisitos, bem como o con-
trolo da configuração, a par da qualidade dos sistemas e equipa-
mentos e a comunalidade logística no máximo das possibilidades.
Os resultados estão à vista, os mais de 50 anos de utilização ope-
racional falam por si.
Imponderáveis deve ter havido muitos, bem como situações em
que foi preciso decidir no momento. Vamos referir um menos co-
nhecido. O rebentamento de uma bomba perto da João Coutinho,
em outubro de 1969, ainda no estaleiro em Hamburgo, provocou
estragos na zona do gerador de emergência. No entanto, a data
da entrega do navio manteve-se. Pouco se sabe sobre este ato de
sabotagem perpetrado pela LUAR , um dos movimentos oposito-
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res ao regime de então. “Tratou-se do primeiro acto de sabotagem
contra a máquina de guerra colonial” .
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Já com os navios em operação, surgiu uma grande possibilidade
de desenvolvimento do Programa, que acabou por não se concre-
tizar, pois como reflexo das excelentes qualidades náuticas, fia-
bilidade e adequação às missões a custo controlado, as platafor-
mas despertaram o interesse de outras Marinhas. Teria sido a 3ª Aconteceram acidentes, a navegar, no porto, no estaleiro, alguns
série das corvetas , mais concretamente, um projeto desenvolvi- dramáticos com perda de vidas humanas, mas regressaram sem-
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do para a Marinha Sul Africana, mantendo as dimensões principais, pre à base pelos próprios meios, o que, em circunstâncias difíceis,
porém melhor armadas – artilharia de 76 mm moderna e mísseis também atesta a qualidade das guarnições e do projeto, quer pela
Superfície-Superfície, velocidade máxima superior a 25 nós, com 4 redundância, quer pela estabilidade e resistência em avaria.
motores principais e hélice de passo controlável, além de se pre- Assim, durante os 50 anos de utilização operacional, estiveram
ver serem equipadas com sensores da última geração. Estes navios na Guerra e em operações de Paz, enfrentaram a Natureza, no Mar
teriam sido construídos em Portugal . Contudo, com as alterações e em Terra, como foi o caso nos Açores, aquando do terramoto de
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políticas ocorridas em 1974, o negócio não se concretizou. 1980, salvaram vidas humanas na busca e salvamento e no contro-
lo dos fluxos migratórios. Para melhor caracterizar o emprego ope-
CICLO DE VIDA (CICLOS OPERACIONAL racional ao longo do Ciclo de Vida útil, procedeu-se à identificação
E DE MANUTENÇÃO) de quatro fases muito distintas:
– África e Timor;
Desde 1970 as corvetas acumularam aproximadamente, 500.000 – Configuração original;
horas de navegação, o que equivale a terem navegado cerca de – Redução de capacidades combatentes; e
60 anos e dado 220 voltas ao Mundo. Serviram nos navios quase – Início da fase de abate e prolongamento da vida útil.
200 comandantes e milhares de homens e mulheres, muitos em Depois do aumento ao efetivo e após um período de adaptação e
várias comissões de embarque, que fizeram a Escola das Corvetas. treino no mar , na prática, todas as corvetas da 1ª série seguiram
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18 SETEMBRO / OUTUBRO 2021