Page 20 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 566

                                                              equipamentos vitais. Foi substituída chapa nas obras vivas, os gru-
                                                              pos eletrogéneos e radares, entre muitas outras intervenções, mas
                                                              o risco de, no final das intervenções, a plataforma não satisfazer os
                                                              padrões de prontidão era elevado. O custo e a duração de ações de
                                                              manutenção deste tipo é difícil de controlar. Estender o último PO
                                                              não se afigura ser a melhor solução!...
                                                               Tendo em consideração os condicionalismos referidos, a última
                                                              fase do Ciclo de Vida das corvetas prolonga-se há 20 anos. Esta in-
                                                              certeza tem provocado grandes dificuldades e investimentos fora
                                                              de tempo. Uma coisa é certa, os navios nunca teriam atingido os
                                                              50 anos de atividade operacional se, durante anos, não se tivesse
                                                              seguido e cumprido uma política de manutenção rígida, muitas
                                                              vezes em “sobre manutenção” , por forma a garantir períodos
                                                                                      22
                                                              operacionais com elevada disponibilidade e fiabilidade.
                                                               Permitam-me uma palavra de reconhecimento e de confiança
          Em reabastecimento. NRP S. Gabriel, 2 fragatas e uma corveta (anos 80)  nas guarnições e em todo o pessoal que garante o cumprimento
                                                              das missões das corvetas António Enes e João Roby, as últimas
          abaixo das necessidades reais e estes navios deixaram de ser prio-
          ritários. Pouco tempo depois, na Direção de Navios, foi elaborada   sobrevivas de uma linhagem perfeita.
          uma listagem com a ordenação e previsão do ano de abate em
          resultado  da  análise  multicritério  prévia,  esta  com  parâmetros   O EXEMPLO TEM LIMITES
          abrangentes e pragmática.
           Entrava-se, assim, na última fase do Ciclo de Vida das corvetas.   O  cumprimento  dos  50  anos  de  vida  útil  da  corveta  “António
          Não era possível cumprir o Ciclo de Manutenção definido. O atra-  Enes”,  em  missão  na  Região  Autónoma  dos  Açores  no  passado
          so nas docagens começava a ser significativo, apesar do intervalo   mês de junho, com todo o garbo, é sem dúvida um acontecimento
          entre docagens ter passado para 36 meses. Por razões diversas,   épico que dá credibilidade acrescida à Marinha. Mas também nos
          a 1ª corveta a ser abatida  foi a última a entrar ao serviço. Tinha   deve fazer refletir sobre os programas de aquisição de navios. Os
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          32 anos de serviço.                                 navios do tipo corveta, construídos para uma vida útil de 30 anos,
           Da ordenação para desarmamento e posterior abate, foi elabo-  viram os seus períodos operacionais sucessivamente estendidos,
          rado o Plano de Abates, necessariamente alinhado com o Plano   pois como verdadeiros cavalos de batalha, continuam a ser neces-
          de  Aumento  ao  Efetivo  de  Unidades  Navais.  A  construção  dos   sários para garantir o Dispositivo Naval Padrão.
          NPO tinha começado e o contrato indicava que o primeiro navio   A  substituição  de  navios  não  é,  por  si  só,  a  justificação,  mas
          entraria ao serviço em 2005, prevendo-se um novo navio cada   sim uma resposta a uma necessidade identificada para o desem-
          ano, até ao total de 10. Desta forma tomaram-se decisões impor-  penho das missões da Marinha, em função das determinações
          tantes, nomeadamente quanto às ações de manutenção, tendo   emanadas na documentação de referência e aprovadas na As-
          em consideração o respetivo último Período Operacional (PO).  sembleia da República.
           A gestão da manutenção no final no Ciclo de Vida não é fácil. A   Planear não é difícil. As corvetas entraram ao serviço entre 1970
          segurança da plataforma é a principal preocupação, a par da redu-  e 75. A última devia ter sido abatida e devidamente substituída,
          ção das intervenções ao indispensável, para controlo dos custos. O   em tempo, por navios adequados aos requisitos e às missões, ou
          abate das corvetas continuava, a entrada ao serviço de novos na-  seja, no limite, em 2010.
          vios, não. Este facto obrigou, sucessivamente, a “empurrar” o aba-  O Semanário Expresso, na edição de 9 de novembro de 2002,
          te de alguns navios até ao limite, mas ainda foi necessário efetuar   publicava a seguinte fotografia com uma legenda e título bem su-
          intervenções de monta em 3 corvetas, incluindo a substituição de   gestivos: O Fim das Corvetas.


























           NRP António Enes, grupos eletrogéneos instalados em 2014
           (Foto NRP António Enes)                                 NRP João Roby em operações de voo com um dos Lynx da Marinha



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