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REVISTA DA ARMADA | 566
para África, onde algumas permaneceram até à independência Na área da Base Naval de Lisboa (BNL), antes de decorridos
dos países lusófonos, ou seja, estiveram 5 anos longe dos pontos dez anos da entrada ao serviço destes navios, foram construídas
de apoio principais e em que as guarnições foram rendidas suces- infraestruturas de apoio e oficinais transversais a todos os novos
sivamente, em períodos bem definidos. Também aqui estiveram programas de então. Hoje, dir-se-ia que foi desenvolvida uma ca-
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à frente do seu tempo, pois algumas Marinhas de referência têm pacidade com todos os elementos DOTMLPFI . Não terá havido
construído navios capazes de operar por longos períodos fora um planeamento conjunto Marinha – Arsenal do Alfeite, mas na
das bases, rendendo hoje as guarnições de acordo com o mes- prática foram construídas infraestruturas adequadas, destacan-
mo princípio. Três das corvetas da 2ª série foram destacadas para do-se a doca seca e as oficinas de armamento, comunicações e
Timor entre 1975 e 76. material eletrónico. As escolas de formação foram melhoradas,
Nesta fase, os navios demonstraram cumprir os requisitos: criados cursos específicos e produzidos manuais de operação e
flexibilidade num espetro alargado de missões e elevada fiabili- manutenção, como seja o caso das publicações PTMAQ em língua
dade nos equipamentos principais, além de um avanço em ter- portuguesa. Além disso, foi produzida doutrina operacional, o que
mos das condições de habitabilidade, como por exemplo, o con- também contribuiu para a elevada disponibilidade dos navios.
forto que o ar condicionado proporciona nos climas tropicais. Em Nos anos 80 e 90 do século passado, os navios mantinham a
termos de manutenção, os navios eram apoiados nos pontos de configuração inicial. As 4 corvetas da 2ª série, muitas vezes cha-
apoio em terra na área do respetivo Comando Naval, mas tam- madas de corvetas novas, podiam ser consideradas escoltas oce-
bém com uma grande componente de 1º escalão. ânicos tipo fragatas ligeiras (light frigates), com capacidades an-
ti-submarina e anti-aérea, sendo presença assídua nos exercícios
nacionais do tipo CONTEX e PHIBEX, bem como nos de âmbito
NATO. Como referido pelo CALM Balcão Reis em 2017, em sessão
na Academia de Marinha, as corvetas da 2ª série foram também
os navios da transição: “A passagem à tecnologia digital veio per-
mitir automatismos, velocidade na transmissão das informações
e apresentação actualizada da situação com grande agilidade,
clareza e rapidez…”. Não foi por acaso que um requisito inicial
para se ser Comandante das fragatas da classe Vasco da Gama,
foi o de ter sido Comandante de uma corveta “nova”.
Em termos de manutenção, os dez navios cumpriam com grande
rigor o ciclo de manutenção e seguiam uma política de manuten-
ção planeada, com períodos de fabricos cada 24 meses, incluindo
uma docagem, em que o recurso à Indústria Privada complemen-
tava a capacidade do Arsenal. Foi também nas corvetas que se in-
troduziu, na Marinha, o Sistema de Gestão da Manutenção (SGM).
A entrada ao serviço das fragatas da classe Vasco da Gama coin-
cidiu com o início da obsolescência logística de muitos sistemas
de armas e sensores das corvetas e com alterações na tipologia
das missões, factos que determinaram a redefinição dos requisi-
tos operacionais e, assim, a redução das capacidades combaten-
tes . As corvetas perdiam os radares de aviso aéreo, a direção de
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tiro, o equipamento e armamento ASW e deixaram de ter CIC. A
guarnição foi reduzida. Ganharam sistemas no âmbito do contro-
lo ambiental, navegação e comunicações.
Nesta fase, caracterizada pela adaptação às novas missões, os
orçamentos de operação e manutenção ficavam cada vez mais
Helicóptero Alouette III da Força Aérea Portuguesa no convés de voo da corveta Corvetas João Roby e Afonso Cerqueira fundeadas na Ilha de Ataúro, Timor,
António Enes, Baía de Luanda, 1972 dezembro de 1975 (Foto D.R.; in Diário de Notícias, edição online, 4 SET 2018)
(reprodução da capa dos Anais CMN JUL-SET 1978)
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