Page 19 - Revista da Armada
P. 19

REVISTA DA ARMADA | 566

          para África, onde algumas permaneceram até à independência   Na área da Base Naval de Lisboa (BNL), antes de decorridos
          dos países lusófonos, ou seja, estiveram 5 anos longe dos pontos   dez anos da entrada ao serviço destes navios, foram construídas
          de apoio principais e em que as guarnições foram rendidas suces-  infraestruturas de apoio e oficinais transversais a todos os novos
          sivamente, em períodos bem definidos. Também aqui estiveram   programas de então. Hoje, dir-se-ia que foi desenvolvida uma ca-
                                                                                                 19
          à frente do seu tempo, pois algumas Marinhas de referência têm   pacidade com todos os elementos DOTMLPFI . Não terá havido
          construído  navios  capazes  de  operar  por  longos  períodos  fora   um planeamento conjunto Marinha – Arsenal do Alfeite, mas na
          das bases, rendendo hoje as guarnições de acordo com o mes-  prática  foram  construídas  infraestruturas  adequadas,  destacan-
          mo princípio. Três das corvetas da 2ª série foram destacadas para    do-se a doca seca e as oficinas de armamento, comunicações e
          Timor entre 1975 e 76.                              material eletrónico. As escolas de formação foram melhoradas,
           Nesta  fase,  os  navios  demonstraram  cumprir  os  requisitos:   criados cursos específicos e produzidos manuais de operação e
          flexibilidade num espetro alargado de missões e elevada fiabili-  manutenção, como seja o caso das publicações PTMAQ em língua
          dade nos equipamentos principais, além de um avanço em ter-  portuguesa. Além disso, foi produzida doutrina operacional, o que
          mos das condições de habitabilidade, como por exemplo, o con-  também contribuiu para a elevada disponibilidade dos navios.
          forto que o ar condicionado proporciona nos climas tropicais. Em   Nos anos 80 e 90 do século passado, os navios mantinham a
          termos de manutenção, os navios eram apoiados nos pontos de   configuração inicial. As 4 corvetas da 2ª série, muitas vezes cha-
          apoio em terra na área do respetivo Comando Naval, mas tam-  madas de corvetas novas, podiam ser consideradas escoltas oce-
          bém com uma grande componente de 1º escalão.        ânicos tipo fragatas ligeiras (light frigates), com capacidades an-
                                                              ti-submarina e anti-aérea, sendo presença assídua nos exercícios
                                                              nacionais do tipo CONTEX e PHIBEX, bem como nos de âmbito
                                                              NATO. Como referido pelo CALM Balcão Reis em 2017, em sessão
                                                              na Academia de Marinha, as corvetas da 2ª série foram também
                                                              os navios da transição: “A passagem à tecnologia digital veio per-
                                                              mitir automatismos, velocidade na transmissão das informações
                                                              e  apresentação actualizada da situação com grande agilidade,
                                                              clareza e rapidez…”. Não foi por acaso que um requisito inicial
                                                              para se ser Comandante das fragatas da classe Vasco da Gama,
                                                              foi o de ter sido Comandante de uma corveta “nova”.
                                                               Em termos de manutenção, os dez navios cumpriam com grande
                                                              rigor o ciclo de manutenção e seguiam uma política de manuten-
                                                              ção planeada, com períodos de fabricos cada 24 meses, incluindo
                                                              uma docagem, em que o recurso à Indústria Privada complemen-
                                                              tava a capacidade do Arsenal. Foi também nas corvetas que se in-
                                                              troduziu, na Marinha, o Sistema de Gestão da Manutenção (SGM).
                                                               A entrada ao serviço das fragatas da classe Vasco da Gama coin-
                                                              cidiu com o início da obsolescência logística de muitos sistemas
                                                              de armas e sensores das corvetas e com alterações na tipologia
                                                              das missões, factos que determinaram a redefinição dos requisi-
                                                              tos operacionais e, assim, a redução das capacidades combaten-
                                                              tes . As corvetas perdiam os radares de aviso aéreo, a direção de
                                                                20
                                                              tiro, o equipamento e armamento ASW e deixaram de ter CIC. A
                                                              guarnição foi reduzida. Ganharam sistemas no âmbito do contro-
                                                              lo ambiental, navegação e comunicações.
                                                               Nesta fase, caracterizada pela adaptação às novas missões, os
                                                              orçamentos  de  operação  e  manutenção  ficavam  cada  vez  mais
























          Helicóptero Alouette III da Força Aérea Portuguesa no convés de voo da corveta   Corvetas  João  Roby e  Afonso  Cerqueira fundeadas na Ilha de Ataúro, Timor,
          António Enes, Baía de Luanda, 1972                  dezembro de 1975 (Foto D.R.; in Diário de Notícias, edição online, 4 SET 2018)
          (reprodução da capa dos Anais CMN JUL-SET 1978)


                                                                                           SETEMBRO / OUTUBRO 2021  19
   14   15   16   17   18   19   20   21   22   23   24