Page 310 - Revista da Armada
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em Espanha é muito facilitada pelo seu  Assim, a expedição de Magalhães foi  verificam e servem de motivos de chaco-
         casamento com a filha de Diogo Barbosa,  financiada em cerca de um quinto por  ta e boa disposição nas folclóricas pas-
         Castelão de Sevilha e por uma outra per-  Cristobál de Haro que, em desacordo com  sagens da “Linha” para os jovens mari-
         sonagem importante da Casa das Indias,  D. Manuel I, se transferiu  para Castela em  nheiros.
         Juan de Aranda. Como conselheiro de  1518,  sendo o resto financiado pela Coroa
         grande influência do Rei actuava Juan  espanhola.
         Rodriguez de Fonseca, Bispo de Burgos.   Feitos os preparativos da praxe, Maga-
           O acordo a que chegaram e que foi san-  lhães larga de S. Lucar de Barrameda a
         cionado pelo Rei a 22 de Março de 1518,  20 de Setembro de 1519, rumando às
         previa que as despesas relativas ao apresta-  Canárias onde aporta a 26 do mesmo
         mento da frota ficariam em parte a cargo do  mês e de onde larga a 6 de Outubro.
         Rei, sendo-lhe atribuída uma percentagem  Após esta escala de abastecimento, onde
         de 20% dos lucros. A Magalhães, entretanto  teria recebido uma comunicação do
         nomeado Comandante em chefe caberia o  sogro que se prepararia uma conspiração
         soldo de 50.000 maravedis. Magalhães pres-  a bordo contra ele, passa entre o Cabo
         tou juramento de fidelidade na Igreja de  Verde e o Arquipélago do mesmo nome,
         Santa Maria da Vitória de Triana em Sevi-  rumando ao Cabo de Santo Agostinho,
         lha e recebeu o estandarte real. Nesta oca-  na costa brasileira. Saindo deste arqui-
         sião o navegador fez uma vultuosa oferta  pélago aproveita o regime dos ventos do
         aos monges para que rezassem pelo sucesso  Atlântico Sul, bem conhecido nessa
         da expedição.                      altura. Esta parte da viagem traz pouca
           A viagem proposta por Magalhães ia na  novidade aos veteranos embarcados,
         direcção de duas outras efectuadas por  sendo contudo uma experiência comple-
         Amerigo Vespucci, ao serviço do Rei de  tamente nova para o resto das tripu-
         Portugal, de 1501 e 1502, e de João Dias Solis,  lações. Assim notamos uma série de per-
         português, que chegou ao Rio da Prata ao  plexidades nas narrativas a propósito dos
         serviço do Rei de Espanha, sendo este rio ini-  peixes voadores, tubarões, pássaros sem
         cialmente conhecido como rio de Solis.  anus e outras criaturas, que  ainda hoje se  Carlos V. Pintura de Ticiano.
           Havia, entre os banqueiros do início do                             Pinacoteca de Munique.
         Séc. XVI, um número notável de espanhóis  ESQUADRA DE MAGALHÃES
         entre os quais se salientavam os de Burgos  Navio  Comandante inicial  Arqueação  Historial do navio
         nas pessoas de Juan de Castro, Diego López                     (ton.)
         Gallo, Francisco de Covarrubias e Gonzalo
         de Almazán, que já tinham investido di-  “Trinidad”  Fernão de Magalhães  110  Navio do Comandante em Chefe:  Fernão de
                                                                                 Magalhães, morto a  27 /4/1521 pelos indígenas
                                                                                 em Mactan.
                                                                                 os
                                                                                 2 Comandantes: Duarte Barbosa e João Serrão,
                                                                                 ambos mortos a 1/5/1521 pelos indígenas em
                                                                                 Mactan (João Serrão embarcou após a perda
                                                                                 da “Santiago”).
                                                                                 3º Comandante: João Lopes de Carvalho.
                                                                                 4º Comandante: Gonçalo Gomez de Espinosa
                                                                                 Navio perdido por tempestade no porto de Ternate;
                                                                                 os sobreviventes seguiram para Malaca-Goa-Lisboa.
                                              “San Antonio”  Juan de Cartagena  140  1º Comandante substituído no meio do
                                                                                 Atlântico, por insubordinação. Libertado pelo
                                                                                 comandante do “Concepción”, onde estava
                                                                                 preso, tomou parte na revolta. Condenado, foi
                                                                                 abandonado com víveres  numa praia deserta
                                                                                 com o Padre Pedro Sanchez de Reina.
                                                                                 2º Comandante: Álvaro Mesquita. Foi encarcerado
                                                                                 por amotinados, voltando para Espanha preso
                                                                                 na embarcação.
                                                                                 3º Comandante: Piloto Estêvão Gomes,
                                                                                 transferido do Trinidad, promotor da revolta.
                                                                                 Chegou a Sevilha a 6/5/1521.
                                              “Concepción”  Gaspar de Quesada  90  1º Comandante foi degolado e esquartejado a
                                                                                 7/4/1520.
                                                                                 2º Comandante Duarte Barbosa que substitui
                                                                                 Magalhães na Chefia da Armada.
         Sevilha - Torre del Oro.                                                Queimado junto à Ilha de Peñol. Os 115 homens
                                                                                 foram distribuídos pelo “Trinidad” e “Victória”.
         nheiro nos navios enviados por Portugal a  “Victória”  Luís de Mendoza  85  1º Comandante apunhalado a bordo e
         Calicut de 1509 a 1514, com ganhos que atin-                            esquartejado no dia 4/4/1520.
         giram 100%. É natural que Juan de Aranda,                               2º Comandante: Gonçalo Gomez de Espinosa,
                                                                                 depois de queimada a “Concepción” a
         também ele natural de Burgos, indigitado                                4/5/1521. Em Julho de 1521 substituiu João
         futuro Administrador da “Casa de la                                     Lopes de Carvalho no comando supremo da
         Contratación”, promovesse o contacto entre                              frota. Regressa de Timor a 13/2/1522.
         Magalhães e estes banqueiros, em parte                                  Reabastece em Cabo Verde a 9/7/1522
                                                                                 Com. Sebastião Delcano substitui Espinosa
         desagradados com o último tratamento que                                Única a regressar a 7/9/1522.
         lhes tinha sido dado em Portugal, criando a
         expectativa que sob a bandeira espanhola os  “Santiago”  João Serrão  75  Encalhado e perdido na Costa Atlântica a 22/5/1520.
         seus lucros seriam ainda mais significativos.  Tripulação total de 234 a 265 almas embarcadas, conforme diversas fontes, sendo mais provável o primeiro valor.

         20 SETEMBRO/OUTUBRO 2001 • REVISTA DA ARMADA
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