Page 340 - Revista da Armada
P. 340

A “Sagres” e os seus Irmãos
                  A “Sagres” e os seus Irmãos



                                     6. 2ª Parte – Guanabara


       Foto Arquivo Marinha do Brasil                                          Estado-Maior das Forças Armadas, Almirante-
                                                                               -esquadra Sylvio de Noronha e o Chefe do
                                                                               -de-esquadra Jorge Dodsworth Martins.
                                                                                 Durante o período em que navegou com
                                                                               a bandeira brasileira, o Guanabara manteve
                                                                               como figura de proa a águia alemã, herdada do
                                                                               Albert Leo Schlageter, mas sem a cruz suástica
                                                                               no brasão existente na sua base. As duas peças
                                                                               de artilharia anti-aérea (76mm/L63) no castelo
                                                                               de proa, também do período alemão, foram
                                                                               utilizadas regularmente pelos alunos em via-
                                                                               gem de instrução, e pela guarnição do navio,
                                                                               para com elas efectuarem exercícios de tiro.
                                                                                 Nas rodas do leme do navio, principal e
                                                                               de emergência, encontrava-se inscrito o seu
                                                                               nome e, diametralmente oposto, o lema da
                                                                               Marinha do Brasil: «Tudo pela Pátria». Os
                                                                               vestígios destas inscrições ainda hoje podem
         Início do reboque do Albert Leo Schlageter, em Bremerhaven.           ser reconhecidos, sem grande dificuldade, nas

               o dia 4 de Julho de 1948, dia nacio-  ram contratados no porto ho-
               nal dos Estados Unidos, foi içada pela  landês de Ijmuiden. Curiosa-  Comandantes do Guanabara
         Nprimeira vez a bandeira brasileira no  mente o preço do reboque foi   Capitão-de-fragata Pedro Araújo Suzano   OUT1948 – NOV1949
         ainda Albert Leo Schlageter, na base americana  o mesmo pelo qual o navio
         em Bremerhaven. Nesta singela cerimónia esti-  foi transaccionado: 5.000 dó-  Capitão-de-fragata Daniel dos Santos Parreira    NOV1949 – SET1950
         veram apenas presentes o Comandante da base  lares americanos.  Capitão-de-fragata Augusto Lopes da Cruz   SET1950 – JAN1951
         americana no rio Weser, Captain H. R. Hol-  No dia 6 de Agosto, ao   Capitão-de-fragata Levy Aarão Reis   JAN1951 – FEV1952
         comb, a sua mulher, Mrs. Cinthia Holcomb, e o  fim de 33 dias de viagem,   Capitão-de-fragata Osmar Azeredo Rodrigues   FEV1952 – FEV1953
         Capitão-de-mar-e-guerra Paulo Penido, Adido  o navio chegou ao Rio de   Capitão-de-fragata Ernesto de Mello Baptista   FEV1953 – FEV1954
         Naval junto da Embaixada do Brasil em Lon-  Janeiro. Depois de cuida-  Capitão-de-fragata Maurício Dantas Torres   FEV1954 – MAR1955
         dres. Terminadas as formalidades procedeu-se  dosamente inspeccionado   Capitão-de-fragata Óscar Lopes Fabião   MAR1955 – MAR1956
         então à preparação do navio para se dar início  foi cumprido um período   Capitão-de-fragata Mário Campos Esposel   MAR1956 – JUN1957
         ao seu reboque até ao Rio de Janeiro. Apesar  de fabricos, com vista a   Capitão-de-fragata Alberto Pimentel   JUN1957 – ABR1959
         de se encontrar em relativo bom estado, não  dotá-lo de todas as condi-  Capitão-de-fragata Ernesto Mourão de Sá   ABR1959 – DEZ1959
         reunia todavia as condições para empreender  ções para navegar.
         uma tão longa viagem. Para além disso não   A 27 de Outubro de 1948
         era viável, nessa altura, fazer chegar à Alema-  foi incorporado na Armada Brasileira, com o  rodas do leme do navio-escola Sagres.
         nha toda uma guarnição, e treiná-la, de forma  nome Guanabara. Esta cerimónia teve lugar   Na sua primeira viagem o Guanabara visi-
         a poder atravessar o Atlântico em segurança,  a bordo e foi presidida pelo Presidente da Re-  tou o porto de Recife, «em cruzeiro de expe-
         num navio que necessitava obrigatoriamente  pública dos Estados Unidos do Brasil, General  riência». Foi pois o primeiro porto brasileiro
         de algumas reparações.             Eurico Gaspar Dutra. Estiveram também pre-  onde o navio atracou, depois de largar do cais
           A tripulação e o rebocador Noord-Holland fo-  sentes o Ministro da Marinha, Almirante -de-  da Ilha das Cobras no Rio de Janeiro no dia 8


                                                     Guanabara
            Durante a expedição de reconhecimento da                            A Escola Naval brasileira, fundada quando a
          costa brasileira, levada a cabo por uma armada                       corte portuguesa se refugiou no Brasil, tem as suas
          portuguesa e capitaneada por Gonçalo Coelho, foi                     instalações na Ilha das Cobras, situada no interior
          descoberta a actual baía de Guanabara. Tal aconte-                  Foto CTEN António Gonçalves  da baía de Guanabara. Para além disso também a
          cimento, de acordo com os registos, ocorreu no dia                   Marinha do Brasil dispõe, no mesmo local, de uma
          1 de Janeiro de 1502. Pelo facto de a baía descober-                 importante base naval e encontra-se aí o Centro
          ta não ter sido então convenientemente explorada                     Cultural da Marinha, local há poucos anos recu-
          julgaram, na altura, tratar-se da foz de um grande                   perado para o efeito. Todos estes factos parecem
          rio. Por isso o local, em virtude da data do seu des-                ter constituído razões suficientemente fortes para
          cobrimento, foi baptizado de Rio de Janeiro.                         que alguns dos seus navios tenham ostentado este
            Algum tempo depois, quando a baía do Rio de                        nome. O Navio-Escola Guanabara foi o sexto. Mas
          Janeiro foi melhor explorada, passou a ser conhe-                    depois dele mais dois navios receberam o mesmo
          cida pelo seu nome autóctone: guanabara. É que                       nome, um dos quais recentemente:
          no dialecto tupi-guarani a palavra «guanabara»   Vista nocturna da baía de Guanabara.  - Guanabara VII - Submarino que esteve ao
          significa baía. Muito provavelmente os primeiros                      serviço entre 1972 e 1983;
          exploradores ignoravam este facto e o nome manteve-se até aos nossos dias.   - Guanabara VIII – Navio-patrulha incorporado no dia 9 de Julho de
          Verificamos hoje ser pleonástica a referência «baía de Guanabara».  1999.

         14  NOVEMBRO 2004 U REVISTA DA ARMADA
   335   336   337   338   339   340   341   342   343   344   345