Page 341 - Revista da Armada
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Foto Arquivo Marinha do Brasil Foto Arquivo Marinha do Brasil
O Guanabara navegando à vela. Grumetes ao leme.
de Dezembro de 1948, debaixo de um vio- brasileiro. Para além disso, também representou No dia 14 de Julho de 1959 o Guanabara
lento temporal. Terminado o mau tempo foi a Marinha do Brasil em vários eventos e come- largou para a sua última navegação. Fundeou
efectuada a primeira compensação das agu- morações. Relativamente a portos estrangeiros, junto à ilha Francisca no dia 15 e embarcou
lhas magnéticas. As velas foram caçadas pela o Navio-Escola Guanabara apenas visitou Mon- alunos do Colégio Naval, tendo suspendido
primeira vez no dia 10 de Dezembro. tevideu, logo na sua segunda viagem, em Janei- nesse mesmo dia. Atracou no porto de Vitória
Ao serviço da Marinha Brasileira o Navio- ro de 1949. E a recepção ao navio não poderia no dia 18 e daqui largou no dia 20. O Guana-
Escola Guanabara efectuou inúmeras viagens ter decorrido de melhor forma. O próprio Presi- bara chegou ao Rio de Janeiro no dia 21 onde
de adaptação e instrução com os Guardas-ma- dente da República do Uruguai solicitou ao Mi- atracou pelas 15h45, tendo efectuado a sua úl-
rinhas e Aspirantes da Escola Naval Brasileira, nistro da Marinha Brasileira que o Guanabara tima viagem com a bandeira brasileira.
com sargentos e praças, e com alunos do Colé- permanecesse mais dois dias em Montevideu, No total, em cerca de treze anos ao serviço
gio Naval e da Marinha Mercante. Serviu tam- para além do previsto, para que fosse possível da Marinha do Brasil, o navio efectuou 79 via-
bém, por vezes, como meio de transporte de efectuar uma visita com os Oficiais e Aspirantes gens, incluindo as saídas de carácter técnico.
militares da Marinha Brasileira para as diferentes do navio à Base Aeronaval de Laguna del Saude Entre a primeira viagem, iniciada a 8 de De-
escolas de formação situadas ao longo do litoral e à cidade de Punta del Este. zembro de 1948, e a última, concluída a 21
de Julho de 1959, navegou mais de 64.000 mi-
lhas, em 861 dias de mar. Apenas não navegou
Almirante-de-esquadra Pedro Paulo de Araújo Suzano no ano de 1958.
Primeiro Comandante do Guanabara No dia 30 de Novembro de 1960 o Navio-
Escola Guanabara foi formalmente abatido
Foto Arquivo Marinha do Brasil para a Escola Naval em 1918 e foi promovido a Guarda-mari- ra, mas mantido pela lotação do «Grupo de
O Almirante-de-esquadra Pedro Paulo de Araújo Suzano nas-
ao efectivo dos navios da Marinha Brasilei-
ceu no dia 6 de Novembro de 1903, no Rio de Janeiro. Entrou
Manutenção» até se concretizar a sua ven-
nha em Janeiro de 1922. Como oficial subalterno embarcou em
da a Portugal.
diversos navios da Marinha do Brasil, participando activamen-
A paragem do Guanabara foi o resultado de
te nos movimentos revolucionários que abalaram o país, dos
quais se destacam o cerco a São Paulo, em 1924, e o comando
fim à existência de navios de vela na Marinha
de um destacamento naval em Mato Grosso, em 1927. uma política iniciada em 1954, com vista a pôr
Já Capitão-de-corveta comandou pela primeira vez um navio: o do Brasil. Em 1959, após a paragem do Gua-
Navio-Mineiro Carioca. Com o início da Segunda Guerra Mundial nabara, o Navio de Transporte de Tropas Cus-
continuou no comando do Carioca, efectuando operações de patru- tódio de Melo, construído no Japão em 1953,
lha do Atlântico Sul. Em 1944 foi nomeado para servir no Estado- levou a cabo a primeira viagem de instrução
Maior do Comando da 4ª Esquadra norte-americana, como Assis- dos Guardas-marinhas. Efectuou a última em
tente Brasileiro dos Almirantes Jonas Ingram e William Munral. 1986, antes de ser abatido ao efectivo.
Depois da Guerra foi comandante do Centro de Instrução O Navio-Escola Almirante Saldanha, maior
Almirante Wandenkolk, responsável pela formação técnica de do que o Guanabara, efectuou a sua última
sargentos e praças. Comandou ainda o contratorpedeiro Gree-
Pedro Araújo Suzano (1903-1978). viagem de instrução em 1954. Dez anos de-
nhalgh e os Navios-Escolas Guanabara e Almirante Saldanha.
Foi promovido a Contra-almirante em 1955, a Vice-Almirante em 1958 e a Almirante-de-esqua- pois, e já sem mastros, foi transformado em na-
dra em 1962. Nos postos do generalato exerceu os seguintes cargos: Chefe de Gabinete do Mi- vio oceanográfico. Foi abatido em 1990.
nistro da Marinha (1955); Comandante da Flotilha de Contratorpedeiros (1956-57); Adido Naval Ironicamente a Marinha do Brasil, de-
junto das Embaixadas do Brasil em Washington e Ottawa (1957-59); Director-Geral de Hidrografia pois de se desfazer dos seus dois magnífi-
e Navegação (1959-60); Comandante-em-Chefe-da-Esquadra (1960-61); Chefe do Estado-Maior cos grandes veleiros, «viu-se obrigada», 40
da Armada (1961); e Secretário-Geral da Marinha (1961-62). Em 1962 foi nomeado Ministro da anos depois, a propósito das comemorações
Marinha, cargo que exerceu até 14 de Junho de 1963. dos 500 anos do achamento do Brasil, a ad-
Durante a sua extensa carreira foi distinguido com inúmeros louvores e 21 condecorações na- quirir na Holanda o novíssimo Navio-Velei-
cionais e estrangeiras, incluindo as portuguesas Ordem Militar de Aviz - grau Comendador, e a ro Cisne Branco... embora a viagem magna
Medalha do Mérito Militar - 1ª classe.
Especializado em Armamento frequentou também os cursos da Escola de Guerra Naval. Passou dos Guardas-marinhas continue a ser feita a
à reserva no dia 11 de Abril de 1964, após 46 anos de serviço. bordo do Navio-Escola Brasil.
O Almirante-de-esquadra Pedro Paulo de Araújo Suzano faleceu no Rio de Janeiro no dia 12 Z
de Janeiro de 1978. António Manuel Gonçalves
CTEN
REVISTA DA ARMADA U NOVEMBRO 2004 15