Page 228 - Revista da Armada
P. 228

O Espadarte
                                O Espadarte



                                                       2ª parte



         AINDA UM POUCO DE HISTÓRIA         da causada pelo “Ultimato inglês de  A ENCOMENDA DO “ESPADARTE”
                                            1890” que agravou a crise política,
           O submarino, como máquina de guerra,  económica e social. Em África desenvol-  Porém, em 1907, o Chefe do Governo
         marcou o início deste século. Nasceu  viam-se esforços de consolidação da  João Franco submeteu à Assembleia
         como arma dos fracos, impondo-se como  soberania portuguesa, através do desen-  Legislativa um programa de aquisição de
         um obstáculo ao domínio dos mares pelas  volvimento de diversas campanhas e a  novos meios navais do qual faziam parte
         grandes armadas.                   pacificação das insurreições que despole-  dois submersíveis (Programa Naval Jacinto
           A característica marcante do submarino  tavam, incentivadas pelas grandes potên-  Cândido). Nesta opção teve grande in-
         é a sua capacidade de ocultação, o que  cias europeias.               fluência a Escola de Torpedos de Vale do
         obriga o antagonista a ter de recorrer a um  A expansão económica no século XIX e  Zebro. Aprovado que foi o programa, o
         grande número de unidades navais para  os fenómenos de dominação que a acom-  1TEN Magalhães Corrêa chefia a missão
         protecção dos na-                                                                       naval (constituída
         vios de maior va-                                                                       por mais dois ofi-
         lor. Também as suas                                                                     ciais: o 2TEN en-
         características hi-                                                                     genheiro constru-
         drodinâmicas fa-                                                                        tor naval Estalis-
         zem dele, em imer-                                                                      nau de Barros e o
         são e a baixas ve-                                                                      2TEN engenheiro
         locidades, uma pla-                                                                     maquinista Fer-
         taforma com gran-                                                                       reira dos Santos)
         de capacidade de                                                                        que vai visitar es-
         detecção, possibi-                                                                      taleiros franceses,
         litando-lhe esco-                                                                       alemães, austro-
         lher um alvo no es-                                                                     -húngaros e italia-
         paço e no tempo.                                                                        nos, em que se
           Os seus antepas-                                                                      constróem subma-
         sados não eram                                                                          rinos do tipo “Lau-
         mais do que veícu-                                                                      beuf”, “Germania”,
         los impelidos pela                                                                      “Whitehead-Hol-
         força física dos                                                                        land” e “Laurenti”,
         seus tripulantes,                                                                       respectivamente,
         que arriscavam a                                                                        terminando por
         sua vida ao tentar                                                                      propor a sua aqui-
         prender minas nos                                                                       sição aos italianos,
         cascos de madeira                                                                       em que a Fiat San
         dos navios inimi-                                                                       Giorgio, de La Spé-
         gos.                                                                                    zia, se encarre-
           O crescimento   Cerimónia de entrega do “Espadarte”, em 15 de Abril de 1913, em La Spézia, Itália.  garia da propulsão
         intenso da tecnolo-                                                                     e o estaleiro Or-
         gia verificado no século XIX arrastou o  panharam levaram à partilha do mundo.  lando, de Livorno construiria o casco.
         desenvolvimento desta inovadora arma. O  Foi neste contexto, o da rivalidade na  João de Azevedo Coutinho, ministro da
         aparecimento da máquina de vapor per-  expansão, e no ataque ao monopólio bri-  Marinha, ordenou a elaboração do cader-
         mitiu o aperfeiçoamento dos processos de  tânico, que regiões inteiras ficaram na  no de encargos e o contrato foi assinado
         fabrico. A resposta dada pela invenção às  dependência dos países capitalistas desen-  em 17 de Junho de 1910. Estava dado o
         novas necessidades levaram à criação de  volvidos.                    primeiro e importantíssimo passo para
         novos processos como a turbina de vapor,  Portugal foi um dos países pioneiros na  dotar a Marinha Portuguesa desta nova
         a metalurgia do aço e a electricidade. A  adopção deste salto tecnológico que re-  arma.
         investigação passou a fazer parte das  presentou a arma submarina, de tão  Em finais desse ano, inicia-se em Livor-
         estratégias das grandes empresas químicas  grande importância para a história da  no a construção de um submarino, de-
         e eléctricas alemãs e americanas. É na  Armada Portuguesa. São prova disso os  signado como a construção nº 39, destina-
         adopção destas novas tecnologias que o  projectos concebidos pelos oficiais 1TEN  do à Marinha Portuguesa. São seus con-
         submersível vai buscar novas capacidades  João Augusto Fontes Pereira de Melo, em  temporâneos três submersíveis brasileiros
         que o transformam numa verdadeira arma  1889, e pelo 1TEN Júlio Lopes Valente da  designados por S-1, S-3 e S-5 e um outro
         de combate.                        Cruz, em 1905, já anteriormente referidos.  russo, construção nº 43.
           O pioneirismo da arma submarina, em  A comissão criada para analisar este últi-
         todas as marinhas que a abraçaram,  mo projecto chegou a recomendar que  O “ESPADARTE”
         trouxe-lhes o desespero, de que são exem-  fossem disponibilizados os meios finan-
         plo os numerosos acidentes na história  ceiros necessários à sua continuação, que  O primeiro navio da Marinha Portu-
         dos submarinos, mas também lhes con-  acabou por ser posta de parte devido a  guesa a chamar-se “ESPADARTE” foi um
         cedeu momentos de glória.          dificuldades económicas e à escassez dos  torpedeiro, construído nos estaleiros ingle-
           Portugal passava por uma crise profun-  recursos industriais do país.  ses YARROW & C.º, de Poplar, em 1882.

         10 JULHO 2000 • REVISTA DA ARMADA
   223   224   225   226   227   228   229   230   231   232   233