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O Espadarte
O Espadarte
2ª parte
AINDA UM POUCO DE HISTÓRIA da causada pelo “Ultimato inglês de A ENCOMENDA DO “ESPADARTE”
1890” que agravou a crise política,
O submarino, como máquina de guerra, económica e social. Em África desenvol- Porém, em 1907, o Chefe do Governo
marcou o início deste século. Nasceu viam-se esforços de consolidação da João Franco submeteu à Assembleia
como arma dos fracos, impondo-se como soberania portuguesa, através do desen- Legislativa um programa de aquisição de
um obstáculo ao domínio dos mares pelas volvimento de diversas campanhas e a novos meios navais do qual faziam parte
grandes armadas. pacificação das insurreições que despole- dois submersíveis (Programa Naval Jacinto
A característica marcante do submarino tavam, incentivadas pelas grandes potên- Cândido). Nesta opção teve grande in-
é a sua capacidade de ocultação, o que cias europeias. fluência a Escola de Torpedos de Vale do
obriga o antagonista a ter de recorrer a um A expansão económica no século XIX e Zebro. Aprovado que foi o programa, o
grande número de unidades navais para os fenómenos de dominação que a acom- 1TEN Magalhães Corrêa chefia a missão
protecção dos na- naval (constituída
vios de maior va- por mais dois ofi-
lor. Também as suas ciais: o 2TEN en-
características hi- genheiro constru-
drodinâmicas fa- tor naval Estalis-
zem dele, em imer- nau de Barros e o
são e a baixas ve- 2TEN engenheiro
locidades, uma pla- maquinista Fer-
taforma com gran- reira dos Santos)
de capacidade de que vai visitar es-
detecção, possibi- taleiros franceses,
litando-lhe esco- alemães, austro-
lher um alvo no es- -húngaros e italia-
paço e no tempo. nos, em que se
Os seus antepas- constróem subma-
sados não eram rinos do tipo “Lau-
mais do que veícu- beuf”, “Germania”,
los impelidos pela “Whitehead-Hol-
força física dos land” e “Laurenti”,
seus tripulantes, respectivamente,
que arriscavam a terminando por
sua vida ao tentar propor a sua aqui-
prender minas nos sição aos italianos,
cascos de madeira em que a Fiat San
dos navios inimi- Giorgio, de La Spé-
gos. zia, se encarre-
O crescimento Cerimónia de entrega do “Espadarte”, em 15 de Abril de 1913, em La Spézia, Itália. garia da propulsão
intenso da tecnolo- e o estaleiro Or-
gia verificado no século XIX arrastou o panharam levaram à partilha do mundo. lando, de Livorno construiria o casco.
desenvolvimento desta inovadora arma. O Foi neste contexto, o da rivalidade na João de Azevedo Coutinho, ministro da
aparecimento da máquina de vapor per- expansão, e no ataque ao monopólio bri- Marinha, ordenou a elaboração do cader-
mitiu o aperfeiçoamento dos processos de tânico, que regiões inteiras ficaram na no de encargos e o contrato foi assinado
fabrico. A resposta dada pela invenção às dependência dos países capitalistas desen- em 17 de Junho de 1910. Estava dado o
novas necessidades levaram à criação de volvidos. primeiro e importantíssimo passo para
novos processos como a turbina de vapor, Portugal foi um dos países pioneiros na dotar a Marinha Portuguesa desta nova
a metalurgia do aço e a electricidade. A adopção deste salto tecnológico que re- arma.
investigação passou a fazer parte das presentou a arma submarina, de tão Em finais desse ano, inicia-se em Livor-
estratégias das grandes empresas químicas grande importância para a história da no a construção de um submarino, de-
e eléctricas alemãs e americanas. É na Armada Portuguesa. São prova disso os signado como a construção nº 39, destina-
adopção destas novas tecnologias que o projectos concebidos pelos oficiais 1TEN do à Marinha Portuguesa. São seus con-
submersível vai buscar novas capacidades João Augusto Fontes Pereira de Melo, em temporâneos três submersíveis brasileiros
que o transformam numa verdadeira arma 1889, e pelo 1TEN Júlio Lopes Valente da designados por S-1, S-3 e S-5 e um outro
de combate. Cruz, em 1905, já anteriormente referidos. russo, construção nº 43.
O pioneirismo da arma submarina, em A comissão criada para analisar este últi-
todas as marinhas que a abraçaram, mo projecto chegou a recomendar que O “ESPADARTE”
trouxe-lhes o desespero, de que são exem- fossem disponibilizados os meios finan-
plo os numerosos acidentes na história ceiros necessários à sua continuação, que O primeiro navio da Marinha Portu-
dos submarinos, mas também lhes con- acabou por ser posta de parte devido a guesa a chamar-se “ESPADARTE” foi um
cedeu momentos de glória. dificuldades económicas e à escassez dos torpedeiro, construído nos estaleiros ingle-
Portugal passava por uma crise profun- recursos industriais do país. ses YARROW & C.º, de Poplar, em 1882.
10 JULHO 2000 • REVISTA DA ARMADA