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PRIMEIRA GUARNIÇÃO DO “ESPADARTE” em La Spézia, numa cerimónia que ficaria
marcada por um acto singular mas cheio
Comandante.....................................................................1º Tenente J. Almeida Henriques de significado: a oferta ao comandante de
Imediato..................................................................................2º Tenente Fernando Branco um estojo com um tinteiro de prata e uma
Engenheiro.................................................................Guarda Marinha O’Sullivand Simões pena de ouro pela primeira guarnição do
Sargento Torpedeiro..........................................................................José Cândido Almeida submarino, com o desejo de que servis-
Sargentos Artífice ..................................................P. Freitas, Engrácio, C. Freitas e Moreira sem para a assinatura da acta de entrega.
Cabos Torpedeiros...................................................................Silva, Lage, Borrega e Flores Esse estojo encontra-se actualmente em
Marinheiros Torpedeiros .............................Sousa, Monteiro, Rodrigues, Carreira e Santos exposição no Museu de Marinha.
Cabos Fogueiros .............................................................................................Alves e Lopes Nas três faces da pena estão inscritas as
Operário do Arsenal...........................................................................................Júlio Santos seguintes palavras: ZELO APTIDÃO HON-
RADEZ.
As provas de mar decorreram de 5 de
Outubro de 1912 a 14 de Abril de 1913
ao largo de Livorno e de La Spézia, con-
forme se tratavam de provas do casco ou
dos motores. Era grande a expectativa da
Marinha Portuguesa, preocupada essen-
cialmente com as características submer-
síveis do "Espadarte" e com a utilização
dos novos motores de combustão, Diesel,
a dois tempos, após os acidentes verifica-
dos nos submarinos americanos "Fulton",
"Cuttlefish" e "Drakon", no italiano "Foca",
no francês "Saphir" e nos ingleses A4, A1 e
C26, equipados com motores de explosão
(a gasolina).
No próprio dia 15 de Abril o submersí-
vel "Espadarte" fez a primeira imersão ape-
nas com guarnição portuguesa, pois até aí
todas as provas tinham decorrido sob a
responsabilidade do estaleiro. Para isso
A primeira guarnição do “Espadarte”: 3 oficiais, 5 sargentos, 11 praças e 1 operário do Arsenal. contribuiu a participação da guarnição nas
provas do estaleiro e o embarque para
treino num submarino "Whitehead – Hol-
Ficou a constituir também um importante Itália o cabo torpedeiro Lúcio e o cabo land", em Fiume.
marco assinalando a adopção do torpedo torpedeiro Constantino foram atacados por
na nossa Armada. A escolha do nome des- um surto de febre tifóide, tendo o primeiro O SISTEMA DE PROPULSÃO DO
te cetáceo está ligada ao torpedo, porque sido evacuado para Lisboa e o segundo "ESPADARTE". O MOTOR DIESEL.
o poder eléctrico que a cabeça do espa- falecido ainda em Itália, ficando sepultado
darte tem evocava o poder explosivo que no Campo Santo de Livorno. O "Espadarte" tinha um sistema de
o torpedo transportava. O “Espadarte” foi lançado à água em 5 propulsão misto. Motores eléctricos para a
Em 1886, com a aquisição de uma nova de Outubro de 1912, sendo madrinha a navegação em imersão alimentados pelas
esquadrilha de torpedeiros, o “Espadarte” Sr.ª D. Sara Tavares, sobrinha do nosso baterias e motores de combustão interna,
perdeu o nome, passando a ter a designa- embaixador em Roma. No dia 15 de Abril Diesel, para navegar à superfície. Nesta
ção numérica de I. Cerca de sete anos de 1913 é entregue à Marinha Portuguesa, situação os motores eléctricos de propul-
mais tarde ele seria de novo usado para são transformavam-se em geradores e car-
baptizar o primeiro submersível português. regavam as baterias. Era o que se designa-
A comissão de fiscalização da cons- va por "submarino autónomo", por ser
trução do submersível “Espadarte” foi ini- independente da estação em terra para
cialmente constituída pela própria missão recarregar as baterias.
naval atrás referida, que anos antes havia É precisamente neste capítulo que o
percorrido a Europa para seleccionar o submersível "Espadarte" foi também pio-
estaleiro construtor. Cerca de um ano neiro, por ter sido dos primeiros a ser
depois foi alterada passando a ser com- equipado com motores Diesel, numa
posta por três oficiais que viriam a per- época em que estes motores eram ainda
tencer à sua primeira guarnição: o 1TEN J. uma inovação. Como o tempo viria a
Almeida Henriques, o 2TEN Fernando comprovar, este era o tipo ideal de sistema
Branco e o GM EMQ O’Sullivand Simões. de propulsão para os submarinos conven-
O 2TEN EMQ Ferreira dos Santos, que fez cionais, dadas as evidentes vantagens
parte da missão naval, continuou em Tu- sobre os motores a gasolina e sobre as
rim a acompanhar na fábrica da Fiat a fase máquinas de vapor, e terá sido um dos
inicial do fabrico dos motores. principais motivos que tornou o "Espadar-
A guarnição veio a ser completada ao te" num submarino de sucesso.
longo da construção vindo a ser composta Mas abordemos, ainda que abreviada-
por 20 homens. mente, a história dos motores Diesel.
Uma nota cabe referir sobre dois ele- Estojo com o tinteiro de prata e pena de ouro, oferecido Em 1897, Rudolf Diesel está convencido,
mentos que não chegaram a pertencer à pela 1ª guarnição ao comandante do “Espadarte” após a construção de diversos protótipos,
primeira guarnição: durante a estadia em e usado na assinatura da acta de recepção do navio. que o seu motor está pronto para ser co- ✎
REVISTA DA ARMADA • JULHO 2000 11