Page 230 - Revista da Armada
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mercializado. Ainda tões e propostas
em 1887, Krupp de alteração, con-
negociou com a tribuíram para o
futura MAN (criada aperfeiçoamento
posteriormente em dos motores, prin-
1898) a construção cipalmente das ge-
destes motores em rações que se lhes
Nuremberga. Este seguiram, entre os
motor foi a vedeta, quais os que viriam
durante o ano de a equipar os sub-
1898, da 2ª EXPO mersíveis "Foca",
da Energia de Mu- "Golfinho" e "Hidra".
nique e na EXPO Como facilmen-
Eléctrica de Nova te se pode cons-
York, recebendo tatar é num mo-
na Exposição Uni- mento ainda de
versal de 1900, em muita incerteza
Paris, o grande pré- quanto ao futuro
mio. dos motores Die-
Desde logo é re- sel que Portugal,
conhecida a po- Um dos motores Diesel do “Espadarte”. Provavelmente, a primeira instalação Diesel a existir em Portugal. num acto de ma-
tencialidade deste gistral antecedên-
motor para substituir a máquina de vapor submersíveis, cuja primeira aplicação foi cia e de corajosa antecipação, decide
e o motor de explosão usados até então nos submersíveis da classe "Medusa" e encomendar o seu primeiro submersível
nos submersíveis. As vantagens em relação um pouco mais tarde no submersível já equipado com este tipo de motores.
à primeira eram a sua menor dimensão e "Espadarte". Com a sua chegada a Lisboa, em Agosto
condutas de evacuação mais discretas. Em Em 1914, no início da I Grande Guerra, de 1913, ter-se-á introduzido a primeira
comparação com o motor de explosão apenas 0,4% da tonelagem mundial dos instalação deste tipo no país (1). Este pio-
tinha a favor o seu menor consumo e o navios era equipada com motores Diesel. neirismo terá tido o seu preço, a começar
reduzido risco de explosão. Resumidamente, os motores do "Espadarte", pela dificuldade em obter o respectivo
L’Aigrette (1901) foi o primeiro submer- que tinham algumas particularidades cu- combustível em Portugal. A esse propósi-
sível do mundo a ser equipado com um riosas, podem ser apresentados como to, numa mensagem enviada pelo coman-
motor Diesel, inspirado nos motores segue: marca Fiat San Giorgio, modelo dante do "Espadarte" para Lisboa aquando
MAN, e construído pela Companhia 2C-116P, a 2 tempos, reversíveis, com 6 dos preparativos da viagem, dizia ele: "...
Francesa de Motores a Gás. Tinha uma cilindros em linha e um compressor de ar podendo entrar-se, segundo as circuns-
potência de 160 CV a 400 RPM e era ca- incorporado, monocilindrico, recebendo tancias acima apontadas, em Marselha,
paz de deslocar um navio com 179 movimento duma sétima manivela, fun- Barcelona, Cartagena ou Gibraltar, porto
toneladas. cionando como se de um sétimo cilindro este no qual, embora a provisão de nafte-
Em 30 de Agosto de 1905 é lançado se tratasse. Este compressor carregava um lina para a propulsão com um motor, a 9
nos estaleiros Germania, em Kiel, o pri- conjunto de garrafas, a cerca de 80 nós, dê até Lisboa, julga este comando
meiro submarino alemão, U-1, equipado Kg/cm2, e o ar comprimido servia para: aconselhável se ateste completamente,
também com motores Diesel. arranque do motor, sistema de pulveriza- atendendo ao elevado preço desse com-
A patente do motor caiu no domínio ção do combustível e sistema de reversi- bustível em Lisboa."
público em 1908, aparecendo logo diver- bilidade do motor. Tinha ainda um siste- Mesmo seis anos depois ainda o proble-
sos construtores a desenvolvê-lo e a aper- ma que lhe permitia funcionar apenas ma logístico persistia, como atesta o CTEN
feiçoá-lo. Em 1910 Sultzer construiu o com 4 cilindros. Almeida Henriques, já na qualidade de
primeiro motor Diesel sobrealimentado. Os oito submersíveis italianos da classe Comandante da Esquadrilha de Submer-
É no âmbito naval, porém, que ele tem "Medusa", idênticos e contemporâneos do síveis, em 28 de Abril de 1919, num estu-
maior difusão e os submersíveis são as "Espadarte", foram igualmente equipados do sobre os apoios existentes na cidade do
plataformas que primeiro recebem esta com motores Diesel Fiat 2C-116P. No Porto na hipótese do "Espadarte" se deslo-
inovação. Teve-se ainda de esperar pelos entanto, durante a 1ª Grande Guerra, vi- car a Leixões: "No mercado do Porto
anos 30 para que o motor Diesel fosse riam a ser desembarcados e substituídos pode encontrar-se o ólio e petrólio
aplicado ao transporte ferroviário e ao por mais elementos de baterias, tornando- necessários para o navio, mas não existe
automóvel. Também ficou para a história -se assim submarinos com propulsão ex- em depósito algum nafta, nem mesmo na
a construção da central eléctrica de Kiev, clusivamente eléctrica. Na base desta de- filial da Vacuum Oils (2). Os ólios são
para os transportes públicos, equipada cisão esteve a sua constante inopera- bastante mais caros que em Lisboa e no
com motores Diesel. A primeira aplica- cionalidade devido às persistentes avarias preço não está incluído o seu transporte
ção de motores Diesel num navio de su- dos motores Diesel que os técnicos e mi- dos armazéns do Porto para a bacia de
perfície foi no cargueiro dinamarquês litares italianos nunca conseguiram solu- Leixões. A Vacuum Oils, que o forneceu a
"Selandia", de 10.000 toneladas, em cionar satisfatoriamente, contrariamente 1,60 escudos o kilo, põe-no na Arrábida,
1912, que exerceu a sua actividade no aos portugueses que também neste capí- junto dos seus depósitos, mas o trans-
comércio entre a Europa e o Extremo tulo desempenharam um serviço nota- porte para Leixões é a pagar pelo navio."
Oriente. bilissimo. O seu contributo foi importante
A firma italiana Fiat, que se dedicava à não só na manutenção da operacionali- A HISTÓRICA VIAGEM
industria pesada e maquinaria agrícola, dade dos motores do "Espadarte" até ao DE LA SPEZIA PARA LISBOA
começa a partir de 1908 a desenvolver o seu abate, como na evolução dos motores
seu motor Diesel destinado a navios de originais. Logo desde a sua construção A primeira grande prova das suas
pequena tonelagem. Este motor virá a ser nas Fábricas Fiat que os engenheiros por- capacidades seria, no entanto, a viagem
aproveitado com sucesso em numerosos tugueses, com as suas criteriosas suges- realizada de La Spézia para Lisboa, cons-
12 JULHO 2000 • REVISTA DA ARMADA