Estudos
Ingressou na Academia Real de Marinha com quinze anos, completando o Curso Mathematico em 1832. Em Agosto de 1833 alistou-se no 1.º Batalhão Fixo do Comércio, sendo identificado com a ocupação de caixeiro do comércio mas ainda no mesmo mês pediu admissão ao Real Corpo dos Guardas Marinhas. Foi admitido em Outubro, ocupando o posto de Guarda-Marinha e cursou na Academia Real dos Guardas Marinhas até 1835. Foi-lhe concedida licença para estudar na Universidade de Coimbra, a expensas da Marinha, e, em 1839, com vinte e cinco anos, completou o grau de bacharel em Matemática.
Ensino
Após completar a formação académica, retornou à Companhia dos Guardas Marinhas. Foi promovido a Brigadeiro da 2.ª Brigada, em Janeiro de 1840, e a Segundo-tenente da Armada, em Novembro seguinte. Entre 1844 e 1845 ocupou o cargo de examinador da cadeira de Artilharia, Geografia e Hidrografia da Academia dos Guardas Marinhas. Integrou o corpo docente da Escola Naval aquando da sua fundação, em 1845, como lente substituto das primeira e segunda cadeira do primeiro ano do curso, onde se ensinavam assuntos de Mecânica, Astronomia, Óptica e Prática de observações astronómicas aplicadas à Navegação. Em 1848, foi nomeado lente proprietário da terceira cadeira do terceiro ano, que compreendia o ensino de Artilharia, Fortificação, Geografia e Hidrografia. De 1852 a 1859 esteve ausente por motivos de saúde. Quando regressou, foi julgado incapaz de serviço activo e afastado do serviço militar, sendo promovido a Capitão-tenente adido ao Corpo de Veteranos da Marinha. Como causa possível, ou presumível, da sua debilidade, é indicado o excesso de trabalhos intelectuais. Foi jubilado a 20 de Outubro de 1865 e reformou-se em 1868, no posto de Capitão-de-fragata.
Obra científica
A sua obra científica abrange temas diversos de Matemáticas Puras (Teoria dos Números) e de Matemáticas Aplicadas (Astática, Cálculo Actuarial e Teoria da chama), podendo agrupar-se em dois momentos, separados por um longo período de doença que decorreu de 1852 a 1859. No primeiro, compôs as obras mais relevantes em termos científicos, Memória sobre a rotação em torno dos pontos de aplicação (1851) e Propriedades geraes e resolução directa das congruências binómias (1854). Escreveu a primeira Memória sem ter conhecimento da teoria sobre o mesmo tema de August Möbius, que remonta a 1837, e antecipou alguns dos resultados publicados em 1877 por Gaston Darboux, razões pelas quais se reclama para Daniel da Silva um lugar na História da Astática. O segundo trabalho trata sobre processos e fórmulas directas para a resolução de problemas relativos a congruências binómias. Nele se encontram a relação conhecida actualmente como Princípio de Inclusão-Exclusão e a generalização duma importante fórmula de Euler. Questões de prioridade podem reclamar-se em relação a John Stephen Smith (1826-1883), que, de forma independente, apresentou em 1861 alguns dos resultados contidos no texto do matemático português.
A partir da década de 1860, Daniel da Silva investigou temáticas da área das Matemáticas Aplicadas, sobre assuntos menos exigentes do ponto de vista científico cuja importância reside na sua aplicação. A afiliação a montepios de sobrevivência, designadamente o Montepio Geral, o Montepio Geral de Marinha e o Montepio Oficial dos Servidores do Estado, determinou o seu estudo, entre 1865 a 1870, de planos de pensões desse tipo de associações e a investigação de temas de Cálculo Actuarial. A relevância desses trabalhos reside no uso de métodos científicos na fundamentação de fundos de pensões dessas sociedades, minimizando a sua deficiente organização. A ligação que manteve, na década de 1870, com a Companhia Lisbonense de Iluminação a Gás, justifica a sua investigação em torno de questões de iluminação pública a gás. Em Considerações e experiencias acerca da chamma (1873) apresenta resultados de experiências que levou a cabo com o propósito de avaliar a velocidade de transmissão da chama do gás em bicos de gás denominados de leque, forma usada, na época, na iluminação pública de Lisboa. Antecipou resultados descobertos, de forma independente, pelo químico alemão Karl Heumann (1850-1894), publicados em 1878.
No estrangeiro, a obra de Daniel da Silva foi desconhecida durante a sua vida. São disso exemplo os episódios com Darboux, Smith e Heumann. De uma forma geral, o seu mérito científico foi reconhecido em Portugal, muito embora as temáticas que investigou não fossem estudadas com profundidade por outros cientistas.
Sociedades
Pertenceu a sociedades diversas, científicas, literárias e artísticas, ou de outra natureza, todas elas portuguesas. Integrou a Sociedade Escolástico-Filomática, ainda na década de 1840. Tornou-se sócio da Academia das Ciências de Lisboa em 1850 e ascendeu a sócio de mérito em 1859, tendo-lhe confiado a publicação da maior parte da sua produção científica. Foi membro fundador do Grémio Literário, em 1846, e sócio correspondente do Instituto de Coimbra. A ligação à Marinha Portuguesa determinou a afiliação ao Montepio Geral de Marinha e à Associação Marítima e Colonial de Lisboa. A ligação a algumas sociedades determinou, como notámos, a investigação em temáticas distintas da sua formação académica.
Daniel Augusto da Silva faleceu em 6 de outubro de 1878, em Oeiras, vítima duma pneumonia.
Autores da biografia:
Ana Patrícia Martins
Teresa Maria Sousa